O antigo secretário-geral da CGTP e ex-militante do PCP Manuel Carvalho da Silva apelou hoje ao voto na CDU, para que depois não se diga "que falta fazia o Partido Comunista" e criticou o PS que o "já era ontem".

Num vídeo enviado à comunicação social e que foi partilhado nas redes sociais e na página da CDU, Manuel Carvalho da Silva, em conversa com o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, disse que é "preciso mesmo votar" no Partido Comunista "para que, depois de 18 de maio e nos tempos que aí vêm, que são complicados, não se diga que falta fazia" aquele partido.

Para Carvalho da Silva, "é preciso agir com o voto, pelo voto", apesar de os tempos não serem "propícios à passagem de uma série de mensagens".

Criticando as mensagens com ideias "pretensamente simplificadas" -- "mensagens de vazio" -, o antigo líder daquela central sindical recordou o 'slogan' do PS para estas legislativas: "O futuro é já".

"Isso não é nada. É preciso dar-lhe conteúdo. O já era ontem", afirmou, vincando que é preciso que se fale do futuro, mas "que se fale do futuro com conteúdos".

Agenda “encoberta” da AD

Sobre a AD e o pedido para deixar o primeiro-ministro, Luís Montenegro, trabalhar, Carvalho da Silva disse que sabe como o Governo trabalha, acusando o executivo de não cumprir compromissos, como no caso da greve da CP, e de provocar uma "situação de instabilidade para atingir direitos dos trabalhadores".

"Essas provocações vão aumentar", alertou o antigo dirigente sindical que saiu do PCP em 2013.

Pegando naquilo que considera ser a "hipocrisia" do Chega, o antigo militante recordou que "há outras forças políticas que também têm essa disfunção" e que funcionam com "uma agenda encoberta".

"Da parte do PSD, quer em relação à saúde, quer em relação à escola, quer em relação ao trabalho, há muito gato escondido com rabo de fora", disse.

Depois de Paulo Raimundo considerar que também "há gato" na Segurança Social, Carvalho da Silva afirmou que Portugal "é um país de cultura da esmola".

"O que o PSD e não só vem fazendo -- aliás o PS também ensaiou e depois foi travada uma medida há três anos que pretendia o mesmo objetivo -- que é transformar as prestações sociais em esmolas. Dão quando lhes interessa na agenda o direito à reforma", notou.

Sobre as mudanças geopolíticas, numa altura de conflitos, Carvalho da Silva disse que o PCP "aparece com a posição mais sustentada e mais coerente".

O antigo líder da CGTP afirmou que "tentaram acantonar o Partido Comunista num beco estreito", admitindo que possa ter havido "erros pontuais de abordagem dos problemas".

"Mas hoje é preciso entender o mundo de outra forma. Nós estamos mesmo perante enormes mudanças estruturais, geopolíticas, geoestratégicas e a nossa juventude tem que ser desperta para isto. Vai viver num mundo diferente. Vai viver num mundo diferente. E repetir o disco das receitas do belicismo e de outros caminhos e de aperto às condições de vida das populações não dá", disse.

Carvalho da Silva, que tinha saído do PCP em 2013, também tinha marcado presença na campanha das legislativas de 2024, numa arruada da CDU, já com Paulo Raimundo à frente do partido.

Cruzamento com PS em Setúbal

Raimundo esteve na tarde desta quarta-feira em Setúbal, onde recusou comentar o momento escolhido por Gouveia e Melo para anunciar a sua candidatura presidencial: "Nós já sabíamos que ia ser candidato. Alguém estranhou esta notícia? Acho que não", acrescentou.

A CDU está focada "em torno daquilo que importa", dos salários, das pensões, da habitação e do Serviço Nacional de Saúde, vincou.

"O nosso tempo é este. É o tempo de hoje, de amanhã [quinta-feira], sexta-feira, sábado e domingo, em que queremos uma grande votação para responder a esses problemas", disse.

O desfile do PCP começou por volta das 17h, na Praça do Bocage, onde decorreu mais tarde um comício do PS, depois de uma arruada também por Setúbal.

Questionado sobre se iria cumprimentar o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, Paulo Raimundo disse que a campanha não o permitia, que tinha de seguir para "outra batalha".

No final da arruada, enquanto discursava, a ex-deputada da CDU Heloísa Apolónia, número três por Setúbal, criticou novamente os apelos ao voto útil, considerando que o voto da CDU "é um voto com utilidade".

Para a antiga deputada, o voto na CDU é o voto "da igualdade, da liberdade, dos direitos, da não discriminação, contra os discursos de ódio, contra o racismo, contra a xenofobia, pelos direitos de todos numa sociedade igual".

Trabalhadores e empresários

Já a cabeça de lista pelo círculo, Paula Santos deixou críticas ao PS, por não acompanhar as propostas da CDU para reforçar os direitos dos trabalhadores, assim como nas propostas para aumento do salário mínimo nacional para 1.000 euros.

"Aquilo que é preciso não são deputados do PS, nem do PSD, muito menos da Iniciativa Liberal e do Chega, que, no momento da verdade e do confronto, tomam sempre a opção pela administração das empresas. Aquilo que nós precisamos são de deputados de que estejam ao lado de quem trabalha", criticou.

No discurso, Paulo Raimundo, que tem pedido vários sobressaltos (à juventude e às mulheres), apelou hoje aos micro, pequenos e médios empresários para darem "um murro na mesa".

"O vosso inimigo está nos custos da eletricidade, o vosso inimigo está nos custos das telecomunicações, está no preço das rendas, está nos custos bancários, está nos custos dos seguros. É aí que está o inimigo. Levantem-se contra esses, que são esses que querem apertar as vossas vidas", disse.