
A chegada de julho representa para o país o início do período de férias, e a política não é exceção. Mas antes de rumar a sul, o país parou para fazer o seu balanço político, económico e social, com o debate sobre o Estado da Nação. Neste exercício, falou-se sobre imigração, habitação, saúde... mas pouco ou nada sobre um tema estrutural: a sustentabilidade ambiental.
A meio de 2025, os dados são tão reveladores quanto preocupantes. Portugal investe, mas não avança. No primeiro semestre, foi feito um reforço histórico de 95 milhões de euros no sistema de recolha e reciclagem das embalagens, SIGRE -Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens - (mais 76% do que no período homólogo), dos quais 68,5 milhões foram aplicados pela Sociedade Ponto Verde. Ainda assim, o aumento nas quantidades de material de embalagem enviadas para reciclagem foi apenas de 2%. E no vidro, um dos materiais mais relevantes da economia circular, houve uma quebra de 1% face a 2024, com menos 1.300 toneladas recicladas. Este é o retrato de uma transição ecológica que não está a acontecer à velocidade necessária.
O quotidiano político tem sido dominado pelos temas do crescimento económico, imigração, habitação, crise na saúde, defesa e instabilidade política. Tudo temas muito válidos e de extrema importância no nosso país. Contudo, pouco se reflete ou diz sobre a urgência climática e a lentidão estrutural com que Portugal continua a lidar com o seu próprio legado ambiental. A sustentabilidade não pode continuar refém de agendas políticas setoriais ou condicionada a momentos políticos.
É imperativo que a sustentabilidade seja entendida como matéria transversal, cujo planeamento, desenho e execução de política pública, em articulação com os agentes privados, seja parte integrante da estratégia política e de desenvolvimento do país, reconhecendo o seu potencial para gerar valor económico e ambiental, através da redução de envio de resíduos para os aterros ( cuja capacidade está no limite), evitar os desperdícios, criar de empregos verdes, e o seu contributo para uma maior coesão territorial.
Ao longo dos anos, sucessivos governos têm afirmado o compromisso com as metas europeias. Mas os números falam mais alto do que as promessas. A estagnação na reciclagem revela não só limitações operacionais, encerradas num monopólio exclusivo dos poderes locais, como também falhas graves em planeamento, monitorização e envolvimento da sociedade civil. Ainda estamos longe de um verdadeiro “Estado Verde da Nação”.
Não é por falta de instrumentos para servir os cidadãos: os modelos de recolha porta a porta, sistemas PAYT e novas tecnologias de monitorização existem, são testados e têm impacto. Existe uma urgência no reforço do planeamento, da capacidade de escala, de maior articulação nacional, adaptada à realidade de cada região e, sobretudo, um verdadeiro compromisso político, transversal aos diferentes partidos, que permita verdadeiramente colocar o ambiente como prioridade transversal e efetiva, assegurando um nível de serviço mais eficiente e próximo das necessidades reais dos cidadãos. É preciso, por isso, perceber que há outras respostas que não apenas mais investimento. Melhor gestão, melhor planeamento, mais rigor na execução e adaptação às necessidades específicas
Este é também um apelo à responsabilidade individual e coletiva. A mudança exige investimentos, sim. Mas também exige visão estratégica, coerência política e liderança nacional. E essa liderança começa em reconhecer que o ambiente não é apenas uma variável, é a infraestrutura invisível da nossa qualidade de vida, da nossa economia e da nossa reputação internacional.
Portugal tem tudo para liderar na sustentabilidade. Mas, para isso, temos de romper com a ideia de que todos os problemas se resolvem apenas com mais dinheiro. O investimento é essencial, mas tem de estar ligado a um plano claro, com metas, prioridades, novos operadores de gestão de resíduos e foco em resultados concretos.
É fundamental concentrar a nossa energia em implementar políticas mais eficazes, com maior impacto no território e na vida das pessoas. Saibamos usar este período de reflexão para devolver o ambiente ao centro da agenda política, porque se há sector que não precisa de mais férias é este