O Triângulo das Bermudas, ou Triângulo do Diabo, é uma área geográfica mítica localizada ao largo da costa sudeste dos Estados Unidos, entre a Florida, Porto Rico e as Bermudas. Para os que acreditam, o Triângulo é um local muito real, com uma elevada incidência de desaparecimentos inexplicáveis, frequentemente associados a explicações sobrenaturais.
Há quem atribua esses desaparecimentos a extraterrestres, vórtices interdimensionais ou até à chamada “flatulência oceânica” (gás metano que emerge dos sedimentos marinhos), de acordo com agência norte-americana para os oceanos e a atmosfera NOAA.
Em 1975, o bibliotecário e piloto Lawrence David Kusche publicou uma investigação sobre o fenómeno. Após rever os relatórios oficiais sobre navios que “desapareceram inexplicavelmente”, Kusche descobriu que a maioria naufragava devido ao mau tempo, e que, por vezes, os destroços eram encontrados.
A Guarda Costeira dos EUA esclarece no seu site que “não se reconhece a existência do chamado Triângulo das Bermudas como uma área geográfica de perigo específico para navios ou aviões”. Após analisar os incidentes na zona, a instituição concluiu que" não foi descoberto nada que indicasse que os incidentes tivessem sido resultado de qualquer outra coisa que não causas físicas. Não foi identificado nenhum fator extraordinário".
Possíveis explicações para os incidentes
Padrões climáticos
O Triângulo das Bermudas é uma zona de condições meteorológicas traiçoeiras. Muitas tempestades tropicais e furacões do Atlântico atravessam a área e a Corrente do Golfo pode causar mudanças climáticas rápidas e violentas. Nos tempos em que as previsões meteorológicas não eram tão precisas, muitos navios eram apanhados de surpresa por estas tempestades, explica a NOAA.
Além disso, trombas de água— tornados sobre o mar que sugam água da superfície — também podem destruir aviões ou navios. Estas trombas podem atingir ventos até200 km/h.
A corrente do Golfo, que atravessa a orla ocidental do Triângulo, é extremamente rápida e turbulenta, podendo atingir os 9 km/hora, tornando-se um enorme desafio, sobretudo para marinheiros inexperientes. Uma velocidade mais do que suficiente para desviar os barcos centenas de quilómetros da rota. E que também pode apagar rapidamente qualquer vestígio do desastre.
Fossas oceânicas e sismos submarinos
A área do Triângulo das Bermudas inclui tanto zonas de águas pouco profundas, traiçoeiras para os navios, como algumas das fossas mais profundas do mundo, incluindo aFossa de Porto Rico, com8.229 metros de profundidade. Navios ou aviões que se afundem nestas águas profundas dificilmente serão encontrados.
Além disso, a região regista uma significativa atividade sísmica. Em1817, um sismo de magnitude 7,4 no extremo norte do Triângulo provocou um tsunami que arrastou navios para o norte, até ao rio Delaware, a sul de Filadélfia.
Gás metano dos sedimentos oceânicos
Em2016, investigadores da Universidade Ártica da Noruega descobriram crateras gigantes com 0,8 km de largura no Mar de Barents, na costa da Noruega, causadas pela explosão de gás natural dos depósitos de petróleo nas profundezas.
Alguns jornais sugeriram que este fenómeno poderia explicar desaparecimentos no Triângulo das Bermudas, revelou na altura a National Geographic, mas a investigadora Karin Andreassen afirmou que os cientistas não faziam qualquer ligação entre o fenómeno no Mar de Barents e o Triângulo das Bermudas.
Erro humano
Muitos desaparecimentos no Triângulo das Bermudas podem ser explicados pelo inevitávelerro humano: interpretações erradas das bússolas, decisões de navegação incorretas ou má compreensão da localização. Com o avanço dos equipamentos de navegação, os desaparecimentos misteriosos na área tornaram-se muito menos frequentes.
Os mais misteriosos desaparecimentos no Triângulo das Bermudas
O U.S.S. Cyclops, 1918
Na primavera de 1918, o U.S.S. Cyclops – um navio de guerra com 164 metros de comprimento equipado com canhões de calibre 50 – carregou 10.000 toneladas de minério de manganês no Brasil e navegou para norte, para Barbados, onde foi reabastecido para a viagem de nove dias até ao porto de Baltimore. Mas depois de deixar os Barbados, o navio e os seus 309 homens nunca mais foram vistos.
A Marinha vasculhou o oceano, mas não encontrou qualquer sinal do navio, nem sequer uma mancha de petróleo, e acabou por declarar que a tripulação estava perdida no mar. Foi a maior perda de vidas sem ser em situação sem combate na história naval dos EUA.
Embora o destino do navio nunca tenha sido oficialmente resolvido, Marvin Barrash, um investigador e descendente de um dos tripulantes desaparecidos, disse ao Washington Post que acredita numa combinação de acontecimentos - um navio desequilibrado por uma carga demasiado pesada, avarias de motor e uma grande onda que atingiu o navio – atirou-o para o fundo da Fossa de Porto Rico. Esta fossa é a parte mais profunda do Atlântico, o que explicaria o facto de o navio nunca ter sido encontrado.
Voo 19 dos Avengers da Marinha dos EUA, 1945
A história do voo 19 é o de um dos desaparecimentos no Triângulo das Bermudas mais conhecidos. Cinco torpedeiros Avenger descolaram da Estação Aérea Naval dos EUA em Fort Lauderdale na tarde de 5 de dezembro de 1945. Era um exercício de rotina em que deveriam voar 241 quilómetros para leste, depois 64 km para norte e regressar à base. Todos os cinco pilotos seriam aviadores experientes e os aviões foram inspecionados antes da descolagem.
Uma hora e 45 minutos após a descolagem, a torre de Fort Lauderdale recebeu uma chamada do comandante do voo, Charles Taylor, que parecia confuso e dizia que não conseguia ver terra. “Não sabemos onde estamos”, disse. O contacto por rádio perdeu-se e 10 minutos depois ouviram-se as vozes de outros membros da tripulação, que pareciam igualmente desorientados. Vinte minutos depois outro piloto disse: "Parece que estamos a entrar em águas brancas... estamos completamente perdidos".
Depois disso, apenas silêncio. Em poucos minutos, um hidroavião Mariner e uma tripulação de 13 homens foram enviados para a última posição conhecida dos Avengers – e acabaram por desaparecer também. Durante cinco dias, a Marinha procurou as aeronaves perdidas, cobrindo 647.497 quilómetros quadrados do Atlântico, e não encontrou qualquer vestígio.
O relato omite convenientemente alguns pormenores que explicariam porque se despenhou o voo 19. Quatro dos pilotos eram na verdade estudantes que voavam para ganhar experiência. O instrutor, Taylor, por algum motivo desconhecido, pediu para ser dispensado das suas funções antes da descolagem, mas o pedido foi negado. Taylor comunicou pelo rádio que as bússolas tinham falhado, pois pensava que estava sobre as Florida Keys, quando na verdade estava sobre as Bahamas – no sentido oposto.
Este foi o terceiro voo em que Taylor se perdeu. Os especialistas navais acreditam que o avião ficou sem combustível e caiu. Quanto ao avião de busca, o Mariner, a tripulação de um outro navio diz que o viu a explodir no céu. O mar estava tão agitado naquele dia que não foi encontrado qualquer vestígio.
Porque é que o mito persiste?
Embora existam explicações lógicas e científicas para a maioria dos desaparecimentos, o mistério do Triângulo das Bermudas continua a fascinar, alimentado por teorias da conspiração e o desejo humano de acreditar que existe...