Marília Cravo, a recém-eleita presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG), revelou os principais objetivos para o mandato que agora assume, com a duração de 2 anos.

Em entrevista à Saúde Online, a gastrenterologista destaca como prioridade a compreensão do aumento dos casos de cancro do cólon e reto, apesar de existirem centros convencionados para colonoscopias há mais de uma década em todo o país. “A incidência da doença e mortalidade associada estão a aumentar, e esse crescimento é particularmente preocupante nos mais jovens”.

“Precisamos de conhecer a realidade dos rastreios colorretais nos Cuidados de Saúde Primários”

É neste contexto que Marília Cravo defende que o rastreio do cancro do cólon e reto deve começar aos 45 anos (e não aos 50 anos, idade recomendada nas Normas de Orientação Clínicas em vigor). Reforça ainda a necessidade de uma colaboração mais estreita com os médicos de Medicina Geral e Familiar e com as associações de doentes, para obtermos dados sobre os rastreios realizados e os casos diagnosticados. “Precisamos de conhecer a realidade dos rastreios colorretais nos Cuidados de Saúde Primários, para percebermos por que razão o cancro colorretal continua a aumentar” – declara a presidente da SPG recém-eleita.

Marília Cravo levanta também dúvidas sobre a eficácia do atual modelo de rastreio. “O aumento da incidência desta patologia, apesar do aumento da oferta de centros convencionados para colonoscopias, reforça a necessidade de avaliar a acessibilidade, adesão e qualidade dos rastreios realizados”. A gastrenterologista afirma que tem de ser feito um levantamento da situação, futuramente entregue à Tutela.

“Vivemos num tempo de crescente conflitualidade entre médicos e doentes.”

A presidente da SPG compromete-se a dar continuidade ao trabalho iniciado pela anterior direção na área das comissões jurídicas, uma área de considera cada vez mais relevante. “Vivemos num tempo de crescente conflitualidade entre médicos e doentes. É necessário acautelar legalmente essas relações, para bem de todos, especialmente dos doentes, mas também dos profissionais de saúde”.

Para além das reformas que pretende fazer durante o seu mandato, a nova direção da SPG elegeu três áreas inovadoras como prioritárias para o próximo biénio:

  1. Tratamento da obesidade, que se associa a várias doenças gastrointestinais e a diferentes tipos de cancros
  2. Inteligência artificial, para otimizarmos a gestão dos recursos clínicos disponíveis
  3. Endoscopia verde, com destaque para a sustentabilidade e eficiência.

A presidente termina com uma mensagem dirigida aos internos e jovens especialistas na área de gastrenterologia, apelando à colaboração com a SPG, ao investimento na formação contínua e à contribuição para melhorar a qualidade dos cuidados médicos prestados em Portugal.

Marília Cravo é professora associada com agregação na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, autora de mais de 150 artigos publicados em revistas internacionais e investigadora principal em 32 projetos.

SO

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