O preconceito e a discriminação contra pessoas LGBTQIA+, o impacto no seu bem-estar e saúde mental, as dificuldades que enfrentam para afirmar as suas identidades sexuais e de género em contextos como a escola, a família e ao longo de diferentes fases da vida — sobretudo na adolescência, mas também em fases mais avançadas da vida.
Estes foram alguns dos temas abordados no mais recente episódio do podcast "Que Voz é Esta?". Também se refletiu sobre a importância das redes de apoio — e a persistente falta de suporte para muitas destas pessoas —, bem como o crescimento de movimentos em Portugal que ameaçam a liberdade e a integridade física e psicológica da população LGBTQIA+, colocando em causa direitos que se pensavam estar garantidos.
Diogo Sixx, de 27 anos, nasceu no Funchal, Madeira, onde viveu até ir para a universidade, em Castelo Branco. Há quatro anos, mudou-se para Lisboa. Durante a adolescência, foi alvo de discriminação e violência verbal por causa da sua identidade e expressão de género - devido à roupa que usava, por exemplo - e por causa da sua orientação sexual.
"A partir dos 12 anos, naquela fase da puberdade e da rebeldia, comecei a adotar um estilo alternativo, vestia-me mais de preto. Num ambiente mais fechado como é o do Funchal, na Madeira, isso tornava-se muito agressivo para mim. Na altura, nem tinha consciência da minha sexualidade, não era uma questão para mim. Mas andar pelas ruas e ouvir insultos como ‘maricas’ ou ‘paneleiro’ era muito confuso para uma criança de 12 ou 13 anos. Eu só estava a tentar descobrir quem era e a expressar-me como queria, e de repente era alvo de tanta hostilidade e não pecebia porquê".
Segundo Jorge Gato, investigador no Centro de Psicologia da Universidade do Porto e coordenador do livro "Manual de Intervenção Psicológica com Pessoas LGBTQIA+”, publicado este ano, "os estudos mostram que as pessoas LGBTQIA+ que são vítimas de estigma, e muitas são, apresentam níveis muito mais baixos de saúde mental em comparação com todas as outras pessoas. Estão numa situação de maior vulnerabilidade, com maior probabilidade de sofrerem abuso sexual ou de viverem em situação de sem-abrigo. Portanto, não está apenas em causa a saúde mental, mas também a sua própria sobrevivência."