Apelidados de “estagiários”, de “médicos novos” ou, muitas vezes, por outras designações infantilizadas e, mesmo condescendentes, os médicos internos correspondem a um terço da força de trabalho do SNS.

Na verdade, tiveram que estudar 6 anos para serem mestres em medicina, seguidos de um ano de formação generalizada em que trabalham nas diversas especialidades médicas e cirúrgicas, sob tutela de um médico especialista. Depois, por fim, ingressam, se assim o pretenderem, numa especialidade, cuja seleção é determinada por um exame com 150 casos clínicos de elevada complexidade com uma duração de 240 minutos, sem mais um único segundo.

Quando já se encontram na especialidade, são, maioritariamente, o primeiro médico que irá encontrar no serviço de urgência a atendê-lo, mesmo estando em formação. Enquanto doente espera justamente que este médico seja capaz de orientar corretamente a sua situação clínica. No entanto, esse mesmo médico que o atendeu no serviço de urgência quando estava suscetível, não se encontra integrado na carreira médica.

Imaginemos que a equipa de urgência decide que a sua situação clínica requer internamento, provavelmente o médico que irá encontrar no dia seguinte é também esse médico interno. E agora questiono: quais as suas expectativas relativamente ao médico que o está a observar em contexto de internamento? Depreendo que sejam as de ser orientado por um médico que não está exausto e que tem o conhecimento científico atualizado e que, perante qualquer dúvida sua, saiba responder com a melhor evidência científica possível.

A verdade é que esse médico, muitas vezes, teve de realizar muitas horas extraordinárias para assegurar a dignidade dos cuidados de saúde prestados e, consequentemente, ficou sem tempo dedicado ao seu estudo, não obstante se encontrar em período de formação.

Os médicos internos, tal como já demonstrado por estudos robustos, são dos mais suscetíveis ao burnout. Surpreendido? Talvez não. Com um Serviço Nacional de Saúde cada vez mais vazio de médicos, com a complexidade crescente da medicina e com a tendência progressiva à mercantilização do SNS, cresce um terreno fértil para o desenvolvimento do burnout.

Estes médicos, que nomeio em cima, são o presente e o futuro do SNS e estão preocupados a saúde dos cidadãos e com o atual estado do SNS. Defendem cuidados de saúde equitativos a toda a população e nos quais o doente não é um cliente nem uma fonte de lucro, mas sim uma pessoa única e digna de uma abordagem multidimensional.

Mais do que nunca, impera defender a profissão médica, impera defender os pilares com os quais SNS foi criado.