
Olhando para o mapa português, após as eleições legislativas, há uma revolução nas cores com que se pinta. A configuração política nos 308 concelhos do país mudou drasticamente neste último domingo. E há uma série de dados curiosos a ter em conta.
Nova pintura em mais de um terço do país
Em mais de um terço dos concelhos do país, houve uma mudança de cor política, após estas eleições. Trata-se, na esmagadora maioria, de perdas do PS.
Há apenas três exceções - isto é, concelhos em que mudou o partido mais votado e em que não se tratou de uma derrota socialista). E são todas elas no arquipélago dos Açores.
Em dois dos casos, foi a AD quem perdeu para o Chega. Aconteceu nos municípios de Lagoa e Vila Franca do Campo.
Já o terceiro caso está totalmente em contracorrente quanto à nova realidade política do país. Para surpresa, há um concelho que deixou de ser da AD para passar a ser do PS. É a ilha açoriana do Corvo.
AD domina a Norte, Chega prossegue conquista do Sul e há dois oásis socialistas
Olhando para os 199 concelhos vencidos pela AD, o Norte surge como o grande responsável pela vitória laranja. Na região Norte, sublinhe-se, há um único concelho que não foi vencido pela coligação liderada por Luís Montenegro. Trata-se de Vizela, no distrito de Braga, onde, isolado de todo o Norte, o PS continua a ser a maior força política.
Fora Vizela, observando o mapa, o local mais a norte onde não aparece um concelho pintado a laranja é Manteigas – no coração da Serra da Estrela, em pleno Centro do país. Aí foi o PS a ganhar, como nos concelhos vizinhos da Covilhã e Belmonte.
O Chega ganha agora em 60 concelhos (quando, até aqui, vencera em apenas 9). Vive sobretudo a Sul (nas zonas do Algarve, Alto Alentejo e Ribatejo), mas também já conseguiu imiscuir-se algures pelo Centro Litoral. Vence, por exemplo, nos concelhos da Marinha Grande e da Nazaré.
Quanto ao PS, tem agora apenas 33 concelhos (quando, nas últimas legislativas tinha vencido em 139!). Só sobrevive no Interior Alentejano e em algumas partes do Alentejo Litoral, sobretudo.
Na Grande Lisboa, o concelho de Loures é o oásis da esquerda – o único onde os socialistas vencem, num deserto de municípios dominados pela AD e até um ou outro (como Sintra e Vila Franca de Xira) conquistados pelo Chega.
Que tipo de eleitores mais atrai cada partido?
Se se analisar os resultados eleitorais à luz de indicadores sociodemográficos (como permite fazer a plataforma EyeData, um projeto em parceira com a SIC e o Expresso), é possível traçar um perfil do tipo de concelhos em que cada partido consegue melhores resultados.
A AD – coligação que inclui o CDS, partido de base cristã -tem melhores resultados nos concelhos onde há mais casamentos católicos, por exemplo,mas também onde há menos nascimentos e menos crianças.
A CDU surge como a antítese da AD: apresenta melhores resultados nos concelhos onde há menos casamentos católicos e mais filhos nascidos fora do casamento, e também naqueles onde há mais chumbos no ensino básico.
Já o PS consegue mais votos nos concelhos onde há mais mortalidade e também onde há menos mulheres em idade fértil e menos população jovem – confirmando as teorias que o associam a “partido dos reformados”.
Quanto ao Chega, sai-se melhor nos concelhos onde há mais população jovem – mostrando que, de facto, é uma potência entre o eleitorado mais novo. Com a sua narrativa anti criminalidade, vence também nos municípios onde há mais crimes. É também um dos partidos que mais apela às populações dos concelhos onde menos gente tem o ensino secundário completo.
A Iniciativa Liberal tem mais votos nos concelhos onde há mais poder de compra e onde se compram e alugam casas mais caras, assim como naqueles onde há menos população idosa e, consequentemente, mortalidade. Curiosamente, um retrato muito idêntico ao do eleitorado que mais opta pelo Livre. O partido de Rui Tavares surge como aversão de esquerda do público urbano jovem que, à direita, é conquistado pela IL.
A caracterização sociodemográfica do eleitorado destes dois partidos é também parecida com a dos eleitores do PAN, que capta também votos nos concelhos onde há mais população estrangeira e menos desemprego.
Em relação ao Bloco de Esquerda, um dos grandes derrotados destas eleições, consegue ter os melhores resultados nos concelhos onde há mais desempregados e onde as rendas da habitação são mais caras – dando força à medida-bandeira do partido, que propõe os tetos às rendas.