Extinto no território português desde o século XV, o castor-europeu (Castor fiber)reapareceu em Portugal. A confirmação foi feita pela Rewilding Portugal, que monitorizava há anos sinais da sua aproximação a partir de Espanha.

A última presença confirmada de castores em Portugal remonta ao final do século XV. Desde então, a espécie desapareceu devido à caça intensiva e à destruição do seu habitat.

Nos últimos anos, a população de castores tem vindo a recuperar em Espanha, com registos crescentes junto à fronteira. Em 2023, já havia notícia da sua proximidade ao território nacional, com observações a menos de 150 metros da fronteira. Em 2025 foram avistados no lado espanhol do rio Tejo na zona de Guadalajara, perto de Madrid.

Nas ações de monitorização da Rewilding Portugal, foram identificadas marcas de roedura em árvores e estruturas típicas de manipulação da água. Câmaras confirmaram depois a presença de um jovem castor já em solo português.

Estávamos atentos a este avanço há já alguns anos, e agora é com enorme entusiasmo que confirmamos este regresso. O castor é um aliado natural no restauro da saúde dos nossos rios e zonas húmidas e tem um papel fundamental a desempenhar nos nossos ecossistemas fluviais”, afirma Pedro Prata, líder da equipa da Rewilding Portugal, em comunicado de imprensa.

Um engenheiro da natureza

Verdadeiro “engenheiro dos ecossistemas”, o castor constrói represas, escava canais e transforma as margens dos rios. Estas alterações aumentam a retenção de água no solo, melhoram a qualidade da água e criam habitats ricos em biodiversidade.

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As estruturas criadas pelos castores contribuem ainda para mitigar cheias, combater a erosão e ajudar no armazenamento de água - um recurso cada vez mais escasso em contexto de seca e desertificação, especialmente no interior do país.

“Estamos a falar de uma espécie que presta serviços ecológicos que nenhum equipamento moderno consegue replicar com a mesma eficiência e escala, sem custos e sem burocracias que acabam por nunca ser ultrapassadas. O castor melhora a qualidade da água, cria refúgios para outras espécies e ajuda-nos a combater fenómenos como a seca e os incêndios”, sublinha Pedro Prata.

Uma peça-chave na renaturalização dos ecossistemas

O castor é considerado uma espécie-chave no movimento de rewilding — a renaturalização dos ecossistemas através do regresso de espécies que regulam e equilibram os habitats. O seu regresso natural deve ser visto como uma oportunidade única para"restaurar processos naturais, devolver protagonismo à natureza e criar paisagens mais vivas, resilientes e biodiversa".

“O regresso do castor a Portugal é um símbolo de esperança e de mudança. Mostra que, se deixarmos espaço e tempo à natureza, ela responde. Cabe-nos agora garantir que este regresso seja bem acolhido e protegido”, reforça Pedro Prata.

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Coexistência exige preparação

Apesar dos benefícios, a presença de castores pode gerar conflitos, sobretudo com atividades humanas junto aos rios, como agricultura e infraestruturas mal adaptadas. No entanto, vários países europeus já têm estratégias eficazes para garantir a coexistência.

Na Suécia, foram criados programas de compensação para agricultores afetados. Na Alemanha e Suíça, técnicos especializados — os Beaver Managers — ajudam a mitigar impactos através de soluções como tubos de regulação de diques ou barreiras de proteção. Em França, campanhas de sensibilização e materiais educativos têm ajudado a reduzir conflitos.

Em Portugal, a Rewilding afirma ter alertado as autoridades para a chegada iminente do castor, propondo a criação de um plano de preparação e diálogo com as comunidades locais. No entanto, segundo a organização, esse plano nunca foi implementado.

“Ainda vamos a tempo de apoiar o seu regresso de forma planeada e em harmonia com o que já existe”, defende a associação, que se mostra disponível para colaborar com entidades públicas nesse processo.

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