Uma semana depois de terem iniciado uma investida em larga escala nas regiões fronteiriças russas de Kursk e Belgorod, e com mil quilómetros quadrados e 74 localidades russas alegadamente sob a sua alçada, as autoridades ucranianas asseguraram que “quanto mais depressa a Rússia aceitar restabelecer uma paz justa (...) mais depressa cessarão as incursões das forças de defesa ucranianas em território russo”, segundo disse o porta-voz da diplomacia ucraniana, citado pela Lusa.
Georgii Tykhii explicava em conferência de imprensa as manobras militares ucranianas na Rússia, “ações absolutamente legítimas por parte da Ucrânia, em particular no âmbito do direito à legítima defesa previsto na Carta das Nações Unidas”.
O representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano sublinhou, por outro lado, que o Exército de Kiev “respeita totalmente as leis e costumes de guerra e o direito humanitário internacional”, limitando-se a atingir alvos “militares”.
Tykhii frisou, ainda, que a Ucrânia não pretende, com os ataques transfronteiriços, anexar territórios russos. “Ao contrário da Rússia, a Ucrânia não precisa da propriedade de outras pessoas”, provocou o responsável.
As movimentações militares ucranianas têm sido interpretadas como uma forma de dispersar as forças russas, que nos últimos meses se tinham concentrado, maioritariamente, em manter e alargar as suas posições nas frentes nordeste e leste do país. Mas há também quem veja a entrada da Ucrânia na Rússia como uma demonstração de força das tropas de Kiev ao Ocidente, designadamente da sua capacidade ofensiva, que nos últimos meses tem sido ofuscada pelas suas necessidades defensivas.
A ofensiva transfronteiriça parece ser, igualmente, uma forma de pressionar os aliados da Ucrânia a autorizar a utilização de armas ocidentais para atingir alvos militares e estratégicos no interior do território russo, medida que tem sido significativamente restringida no decurso da guerra. Georgii Tykhii assinalou, a este respeito, que a incursão ucraniana em Kursk seria “menos necessária” se Kiev pudesse “utilizar plenamente as [suas] capacidades de longo alcance” na Rússia, de acordo com o ‘The Kyiv Independent’.
O responsável ucraniano revelou que estão a decorrer conversações no sentido de flexibilizar os limites de alvos para as forças de Kiev, que vêem nesta possibilidade um passo de “desescalada” que “contribuirá para a segurança”.
Na segunda-feira à noite, o Presidente da Ucrânia vincou, no seu discurso habitual, que a prioridade de Kiev em solo russo é “a libertação da zona fronteiriça dos militares russos”, de maneira a travar os ataques do inimigo realizados a partir de Kursk para a região vizinha de Sumy. Contudo, a estratégia de Kiev não estará, para já, a ter o efeito esperado, tendo a Rússia lançado uma enxurrada de mísseis durante a noite de segunda-feira, relatou o ‘POLITICO’.
Para Moscovo, as ordens dadas pelo chefe de Estado ucraniano constituem “medidas loucas que ameaçam [precipitar] uma escalada muito para além da Ucrânia”, referiu o gabinete de imprensa dos serviços secretos da Rússia, citado pela agência estatal russa RIA.
A Rússia disse, esta terça-feira, ter “impedido” novos ataques ucranianos em Kursk, evitando que as forças ucranianas se inserissem “profundamente em território russo”, lê-se no comunicado do Ministério da Defesa, citado pela Lusa.
O governador da região de Kursk, Alexei Simirnov, tinha informado, na segunda-feira, que as tropas ucranianas tinham avançado em cerca de 12 quilómetros de profundidade e 40 quilómetros de largura, segundo a imprensa estatal russa. Todavia, nota o ‘POLITICO’, relatos de bloggers militares russos indicam que esta será uma estimativa inferior aos números reais.
Outras notícias que marcaram o dia:
⇒ O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA comentou a incursão ucraniana em território russo, afirmando que “se [a situação em Kursk] estiver a deixar [Putin] um pouco desconfortável, há uma solução fácil: ele pode simplesmente sair da Ucrânia e dar o assunto por encerrado”. Em declarações aos jornalistas, reproduzidas pelo ‘The Kyiv Independent’, John Kirby salientou que “esta guerra é de Putin contra a Rússia”.
⇒ Os senadores norte-americanos Lindsey Graham e Richard Blumenthal, que se encontraram na segunda-feira com o Presidente Zelensky, elogiaram a ofensiva surpresa de Kiev na Rússia, noticiou a Associated Press. Graham descreveu a decisão como “ousada e brilhante”. “Levar esta guerra a Putin, fazê-lo compreender [o que está a fazer] e pagar um preço é a atitude correta”, sublinhou.
⇒ Não foi possível determinar a causa do incêndio ocorrido no fim de semana na central nuclear de Zaporíjia, informou a Agência Internacional da Energia Atómica (IAEA, na sigla em inglês). Segundo o ‘The Guardian’, representantes do organismo inspecionaram uma torre de arrefecimento danificada no fogo, mas não conseguiram identificar a sua origem. Tal como noutras ocasiões, Ucrânia e Rússia trocaram acusações sobre a autoria do ataque à infraestrutura nuclear.