
Natural do Porto e filha de pai e mãe economistas, Inês Drumond, atual vice-presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) não considera que tivesse o destino traçado à partida. É bem verdade que sempre se encantou pelos números e gostou de matemática, mas a arquitetura era também um lugar onde se imaginou feliz. O sonho de criança, esse, era ser tenista profissional, o seu desporto de eleição, que praticou como atleta de alta competição até aos 18 anos, altura em que encostou a raquete.
Na modalidade foi campeã nacional de sub-16, treinava diariamente longas horas, rotina que combinava com os estudos. “O ténis é um desporto muito solitário, dependemos de nós próprios”, recorda, acrescentando que “não sou alta, não era rápida, não tinha propriamente muita força, mas tinha a parte psicológica que me ajudava muito”. Lesionou-se e a recuperação difícil, deitou-a abaixo.
Não foi esse o momento, nem o motivo, por que deixou o ténis, mas admite que percebeu que “não ia conseguir chegar ao nível que gostaria internacionalmente” e fez opções. Licenciou-se em Economia, na Faculdade de Economia do Porto, a mesma que formou os pais. E foi também lá que iniciou a carreira, como docente. "Quando fui dar a minha primeira aula, entrei na sala e os alunos ficaram à porta, achavam impossível ser eu a professora porque era muito nova", recorda.
Fez carreira académica durante 16 anos, mas ainda antes dos 40 já somava no currículo o cargo de diretora-geral do Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais do Ministério das Finanças. O momento foi particularmente desafiante: a crise financeira de 2008 e o resgate ao país pela troika. Foi, recorda Inês, “um momento de crescimento rápido e forçado, muito exigente, muito marcante” em que “tentámos fazer o melhor pelo país”.
A atual vice-presidente da CMVM defende que “para sermos bons líderes temos de ter mais tempo, para pensar de forma estratégica e não estar sempre a reagir” e admite que o tempo da troika a levou “um bocadinho à exaustão. Trabalhámos muitas horas, trouxe alguma angústia e posso não ter tomado as melhores decisões mas, naquela circunstância, dei tudo o que podia", diz.
Inês Drumond passou ainda pela Direção-geral de Assuntos Económicos e Financeiros da Comissão Europeia e pelo Banco de Portugal, como diretora-adjunta do Departamento de Estabilidade Financeira, antes de integrar em 2022 a CMVM. Tem-se destacado ao longo do percurso pela sensibilização para a importância da literacia financeira no país, destacando que “não estamos a ganhar o que poderíamos por falta de literacia”. Defende ainda a necessidade de uma regulação proativa que acompanhe as evoluções tecnológicas, sem se tornar um obstáculo ao progresso.
O CEO é o limite é o podcast de liderança e carreira do Expresso. Todas as semanas a jornalista Cátia Mateus mostra-lhe quem são, como começaram e o que fizeram para chegar ao topo os gestores portugueses que marcaram o passado, os que dirigem a atualidade e os que prometem moldar o futuro. Histórias inspiradoras, contadas na primeira pessoa, por quem ousa fazer acontecer. Ouça outros episódios: