
O Norte e Centro de Portugal estão a braços há várias semanas com incêndios florestais de grandes dimensões. O Governo tem sido alvo de críticas e, perante as muitas acusações, Rui Rocha, secretário de Estado da Proteção Civil, garante, na antena da SIC Notícias, que o Executivo tem dado "uma resposta positiva", no entanto admite falhas.
O secretário de Estado começa por observar que “não há memória” neste século de um período tão prolongado de condições meteorológicas adversas.
A partir desta noite, nota, as temperaturas vão diminuir e a humidade vai descer, pelo que a situação de alerta não será prolongada.
“São esses aspetos que nos levaram a não prolongar a situação de alerta, tendo também consciência de que já estamos num período prolongado e que também tem consequências do ponto de vista de algumas atividades, que ficam condicionadas”, explica.
Por ter sido autarca em Ansião, inclusive no ano de 2017, garante saber o que é “a aflição e o drama de ter chamas por todo o lado”, mas aponta que tem havido sempre “quatro ou cinco incêndios de grandes dimensões” que mobilizam simultaneamente milhares de operacionais, razão pela qual, muitas vezes, algumas populações não recebem auxílio imediato.
Reconhece ainda que este ano se têm verificado “circunstâncias anormais”, como trovoadas secas e ventos “convectivos”, que têm agravado a situação de incêndios.
Pode ter havido "alguma descoordenação momentânea”
Questionado se o Governo falou na preparação desta época do ano, Rui Rocha admite que “possa haver alguma descoordenação momentânea” devido à “complexidade do teatro de operações”:
“Aquilo que o dispositivo, a forma como tem respondido, apesar de todas estas incidências, julgo que tem sido uma resposta positiva. Com as lacunas que temos verificado, mas, de facto, tentando balancear todo um dispositivo nacional.”
O secretário de Estado entende que o Governo “deve fazer a preparação de um conjunto de políticas”, nomeadamente de "prevenção, de organização do território, de valorização da floresta e da responsabilidade coletiva.”
O presidente da Liga dos Bombeiros considera que, nos últimos dias, tem faltado um rosto de comando nacional, crítica que não é validada por Rui Rocha, que recorda que o comandante nacional da Proteção Civil tem, quase diariamente, vindo a público informar a população sobre a situação que assola o país e, muitas vezes, desloca-se aos territórios afetados.
Mais uma vez, afirma que as previsões para os próximos dias são animadoras:
“Nós hoje temos cinco incêndios ativos. É um número bastante mais reduzido do que aquilo que nos fustigou em momentos anteriores, com 10 ou 12 teatros de operações, e, portanto, estamos confiantes que também vai ser possível fazer descansar o dispositivo, que tem estado em carga máxima durante 25 dias, e, portanto, estou certo de que com as condições meteorológicas mais favoráveis vai ser possível também nós balancearmos eventuais ocorrências que possam vir a acontecer.”
Ativação do mecanismo europeu foi tardia?
O executivo liderado por Luís Montenegro ativou o Mecanismo Europeu de Proteção Civil depois de um período de mais de duas semanas de combate às chamas, uma decisão que não tem escapado a críticas.
Sobre essa matéria, o secretário de Estado explica que esse é “um mecanismo de último recurso” e lembra que Bruxelas “não tem um lote de aeronaves que está disponível para distribuir” pelos Estados-membros.
“Dar nota de que quando tivemos a informação que dois Canadair ficaram avariados imediatamente tentámos o acordo bilateral com Espanha. Um apoio para colmatar essa circunstância, que veio imediatamente com os dois Canadair, não de Espanha, mas do Reino de Marrocos, que estão até amanhã. Prolongaram a sua estadia e estão connosco. Conseguimos, já depois de acionar o mecanismo europeu, a parelha de Fire Boss da Suécia, que já hoje esteve a operar, e tivemos hoje a informação de que também, a partir de amanhã, pode chegar um helicóptero pesado”, informa.
Nos últimos dias, lamenta, o grande problema não tem sido a falta de meios aéreos, mas sim o facto de as aeronaves não poderem operar devido à falta de condições:
“Isso é a maior angústia que nós temos. É perceber que temos os meios, mas perceber que não temos as condições em momentos muito determinantes para um determinado teatro de operações.”
Novamente sobre o Mecanismo Europeu de Proteção Civil, Rui Rocha explica que a necessidade de ativação foi sinalizada na sexta-feira.
O secretário de Estado garante ainda que o ministro da Economia, o ministro Adjunto e da Coesão e o ministro da Agricultura já “estão a fazer o levantamento a estudar a forma de apoio” às pessoas afetadas pelos incêndios.