Foi um dos momentos mais tensos do debate do Estado da Nação. Terminava a primeira de cinco horas de debate quando uma advertência do presidente da Assembleia da República (PAR) gerou duras críticas do PS à condução dos trabalhos.

"Há limites do tolerável e há instantes, perante a intervenção de André Ventura, que designou o líder do PS com impropérios muito piores, vossa excelência ficou calado! Em silêncio! Sou deputado desta casa há muitos anos, tenho vergonha do senhor presidente porque mostra dualidade de critério”, atirou Pedro Delgado Alves, visivelmente irritado. O socialista chegou mesmo a acusar Aguiar-Branco de "não ter coragem de defender a câmara e os deputados" perante a "extrema-direita".

A intervenção do deputado do PS (aplaudida de pé por praticamente toda a esquerda) era uma reação à advertência feita por José Pedro Aguiar-Branco a José Luís Carneiro. O secretário-geral do PS terminava a sua intervenção no debate do Estado da Nação apelidando André Ventura de "fanfarrão". Só que, na intervenção anterior, tinha sido o líder do Chega a classificar a oposição de José Luís Carneiro como a "mais frouxa" de todas. Uma provocação que passou sem nenhum reparo da Mesa.

"Podemos e devemos atacar as ideias, mas dizer que um colega é fanfarrão não me parece o tratamento urbano", considerou o PAR. E insistiu que é diferente adjetivar negativamente as ideias e "imputar a uma pessoa essa caraterística".

Mas a advertência teve o efeito oposto e os socialistas mostraram-se prontamente indignados com a postura de Aguiar-Branco, que tinha deixado passar a provocação do Chega sem qualquer advertência. Mais contido, o líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, insistiu que a "flexibilidade [de Aguiar-Branco] para a forma como aquela bancada [Chega] se refere aos outros deputados é bastante maior do que quando olha para este lado [esquerda] da bancada".

O incidente acontece dez dias após Aguiar-Branco ter defendido a "liberdade de expressão" do Chega em nomear crianças para fazer um ponto sobre acesso de estrangeiros a creches públicas. A intervenção de André Ventura no Parlamento já despoletou a abertura de um processo na Comissão de Proteção de Dados e uma queixa do Livre junto da Comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados.