Rotinas de cuidados com a pele para adolescentes, partilhados sobretudo no TikTok, estão a preocupar dermatologistas. Um novo estudo mostra que envolvem demasiados produtos com ingredientes potencialmente irritantes e, muitas vezes, sem qualquer benefício real. A utilização excessiva pode provocar reações alérgicas para o resto da vida.

Um estudo da Faculdade de Medicina Feinberg da Universidade Northwestern, o primeiro revisto por pares a analisar os potenciais riscos e benefícios destas rotinas partilhadas nas redes sociais, revela que raparigas entre os 7 e os 18 anos usam, em média, seis produtos diferentes no rosto, havendo casos em que se usam mais de uma dúzia.

Muitos dos produtos são comercializados para um público jovem, mas apresentam elevado risco de irritação e alergia cutânea, muitas vezes para o resto da vida.

Os resultados do estudo foram publicados esta segunda-feira na revista Pediatrics.

Produtos caros e com pouca proteção solar

Segundo o estudo, cada rotina diária de cuidados com a pele de um adolescente custa, em média, 168 dólares por mês (cerca de 147 euros), mas há quem gaste mais de 500 dólares (cerca de 487 euros).

E, apesar do investimento, apenas 26% destas rotinas incluem protetor solar - o único produto consensualmente recomendado por dermatologistas para todas as idades, em especial para crianças e adolescentes.

Ingredientes irritantes e reações alérgicas

Os vídeos mais populares analisados continham, em média, 11 ingredientes ativos potencialmente irritantes, aumentando o risco de desenvolver dermatite alérgica de contacto - uma condição crónica que pode impedir o uso de vários tipos de produtos ao longo da vida.

Segundo a coautora do estudo Molly Hales, dermatologista e investigadora na Universidade Northwestern, o problema é agravado pela utilização simultânea de vários ingredientes ativos, como os hidroxiácidos, e pela aplicação repetida do mesmo ingrediente em vários produtos.

“Encontrámos casos em que o mesmo ingrediente estava presente em três, quatro ou cinco produtos diferentes usados em simultâneo”.

Num dos vídeos analisados, por exemplo, a criadora aplicou dez produtos em seis minutos. Nos minutos finais, já mostrava vermelhidão visível e queixas de ardor, relatou a coautora Tara Lagu, médica e professora de medicina e ciências sociais médicas na mesma universidade.

Pressão estética e mensagens subliminares

Além dos riscos dermatológicos, o estudo alerta para mensagens subliminares preocupantes presentes nos vídeos.

" Observámos que, em alguns casos, havia uma linguagem racial preferencial e codificada que realmente valorizava uma pele mais clara e brilhante . Há também uma forte ligação entre estes regimes e o consumismo", disse Tara Lagu .

Molly Hales chama ainda a atenção para as implicações sociais destas rotinas.

“É problemático mostrar raparigas tão jovens a dedicar tanto tempo e atenção à pele. Estamos a impor-lhes um padrão elevado e irreal. A busca pela saúde tornou-se uma virtude, mas muitas vezes vem disfarçada de ideais de beleza, magreza e brancura. O ‘cuidado da pele’ parece uma coisa saudável, mas tem um lado insidioso”.

Os autores concluem que estes vídeos oferecem pouco ou nenhum benefício para crianças e adolescentes que os seguem.

Sublinham ainda que o algoritmo das redes sociais dificulta que pais e pediatras saibam o que está a ser visto.

Estudar adolescentes no ambiente do TikTok

Para analisar o fenómeno de forma, Molly Hales e outro investigador criaram contas no TikTok afirmando ter 13 anos. Usaram o separador “Para Ti” para identificar vídeos de cuidados com a pele até reunirem 100 vídeos relevantes.

Recolheram dados demográficos dos criadores de conteúdos, o número e o tipo de produtos usados, ingredientes e custos. A equipa comparou depois os ingredientes com os listados na Pediatric Baseline Series - referência nos Estados Unidos para identificar componentes e reações alérgicas.