O Departamento de Estado norte-americano rejeitou esta terça-feira críticas da ONU, que qualificou de "cúmulo da hipocrisia", à ajuda humanitária a Gaza através de uma fundação humanitária recém-criada com apoio de Washington.

"É lamentável, porque a preocupação aqui é entregar ajuda a Gaza e, de repente, estamos a queixar-nos da forma como está a ser entregue e da natureza das pessoas que o estão a fazer", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce, citada pela agência AFP.
"Isto é o cúmulo da hipocrisia", acrescentou, em resposta às críticas da ONU.

A ONU descreveu esta terça-feira como "de partir o coração" as imagens da distribuição de alimentos que a Fundação Humanitária de Gaza, criada pelos Estados Unidos e sem a aprovação das Nações Unidas, lançou esta terça-feira em Gaza por iniciativa própria.

Falando em nome do secretário-geral da ONU, António Guterres, o porta-voz Stéphane Dujarric reiterou que a ONU "não estava envolvida" na operação.

Embora sem fornecer mais detalhes, o porta-voz referiu-se a imagens de centenas de pessoas que invadiram uma das áreas de distribuição de ajuda administradas pela fundação, perto de Rafah, no sul do enclave palestiniano.

A nova Fundação Humanitária de Gaza (GHF) disse, em comunicado, que "a certa altura da tarde, o volume de pessoas no ponto de distribuição era tal que a equipa da GHF teve de se retirar para permitir que um pequeno número de habitantes de Gaza recebesse a ajuda em segurança e se dispersasse".

Dujarric insistiu que a ONU "não tem confirmação independente do que aconteceu nesses pontos de distribuição", uma vez que a sua organização "não estava lá" e, portanto, só pode confiar no que viu nos "vídeos" que circulam, mas explicou o motivo do seu desconforto.

"Para nós, a ajuda humanitária deve ser distribuída de forma segura e protegida, sob os princípios de independência e imparcialidade, como sempre fizemos", afirmou Dujarric, advogando que a iniciativa desta fundação criada pelos Estados Unidos e com apoio israelita não cumpre esses parâmetros.
"Vimos o plano deles, o que eles publicaram e o que nos apresentaram, e isso não foi feito dentro dos parâmetros que atendem aos nossos princípios e que se aplicam de Gaza, ao Sudão e à Birmânia", enfatizou.

A fundação norte-americana foi criticada desde o início pela ONU por operar em lugares onde um cessar-fogo nem sequer foi declarado, por trabalhar de acordo com as exigências do exército israelita e por deixar muitas mulheres e crianças de fora, entre muitos outros motivos.

A GHF informou esta terça-feira que o grupo islamita palestiniano Hamas estava a bloquear o acesso aos pontos de entrega, causando atrasos na distribuição. No entanto, o governo do Hamas na Faixa de Gaza negou essas acusações, declarando-se "horrorizado" com elas e chamando-as de "invenção total".

Por sua vez, o exército israelita admitiu ter "disparado tiros de advertência na área externa do complexo" para dispersar a multidão e negou rumores de que tropas abriram fogo contra a população a partir de helicópteros, indicou a agência de notícias espanhola EFE.

Com Lusa