O secretário-geral das 35ªs Jornadas de Medicina Geral e Familiar da Madeira e Continente, que decorrem no Funchal, defendeu, hoje, na abertura do evento, um aumento significativo do salário dos médicos “pelo menos para o dobro” ou uma redução de 50 por cento no IRS (imposto sobre o rendimento) como medidas para estancar o “êxodo” de médicos dos serviços públicos.

“O défice remuneratório no salário médico nos serviços públicos em Portugal tem causado a saída de muitos médicos, quer para o estrangeiro, quer para os serviços privados de saúde, fazendo declinar a capacidade dos serviços hospitalares e dos centros de saúde em atender a população”, alertou Pedro de Moura Reis, que se mostrou preocupado com o “clima quase catastrófico na saúde pública em Portugal”. Teme mesmo que se caminhe para uma situação em que os hospitais públicos são apenas para pessoas indigentes ou pobres, enquanto os ricos e os remediados recorrem à medicina privada.

A presidente da Câmara do Funchal, Cristina Pedra, que falou logo após o porta-voz da organização das Jornadas, mostrou compreender o problema dos médicos do serviço público mas sublinhou que a proposta de redução do IRS não pode ser concretizada no actual quadro legal, pois “é claramente inconstitucional”, uma vez que viola o princípio da igualdade. "Eu gostaria realmente de ter também o meu IRS parcialmente reduzido (…). Mas isso é claramente inconstitucional. E porque não os enfermeiros menos 50%? Porque não os autarcas que têm um desgaste parecido? E porque não os juízes, o Ministério Público ou os pedreiros, que também trabalham em condições de Sol a Sol e sob a chuva? Se calhar todos nós merecíamos até não pagar IRS”, disse a autarca, que considera que o desafio que se coloca passa mais por encontrar forma de Portugal produzir mais riqueza para poder redistribui-la na forma de melhores salários para todos.

Já quanto ao tema das Jornadas Médicas, Cristina Pedra sublinhou que apesar de os municípios da Madeira não terem competência na área da saúde, área que é da exclusiva tutela do executivo madeirense, mantêm uma sinergia com o Governo Regional que “tem sido um sucesso”. A este propósito, apontou o exemplo da acção da Câmara do Funchal com grupos de trabalho na área das novas drogas (bloom), dos sem-abrigo, na estratégia alimentar e num conjunto de iniciativas de prevenção da doença e promoção do bem-estar e saúde física e mental. A este propósito, anunciou que a CMF vai lançar uma medida para combater o isolamento de pessoas com mais de 75 anos, com a oferta de um voucher de serviço de táxi para que saíam de casa e possam passear.