Em 11 dias caiu o regime do Presidente Bashar al-Assad, pondo fim ao clã da família Assad, que vigorou durante 53 anos na Síria. Ao longo de menos de duas semanas, o grupo rebelde Hayat Tahrir al-Sham (HTS, Movimento de Libertação do Levante) — antigo braço sírio da Al-Qaeda — desencadeou uma verdadeira “operação relâmpago” que culminou no afastamento do Presidente, entretanto exilado na Rússia.

Expresso

A guerra civil da Síria estava ‘adormecida’ desde 2020, ano em que foi mediado um cessar-fogo, em Idlib, entre os presidentes da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e da Rússia, Vladimir Putin. De repente, na noite de 27 de novembro, os rebeldes lançaram um ataque surpresa contra as forças do regime em Alepo, no noroeste do país. Alepo faz fronteira com a cidade de Idlib, até então o último reduto controlado pelos jiadistas.

Em pouco tempo, os rebeldes islamitas tomaram grande parte de Alepo e controlaram o aeroporto. A cidade, a segunda maior da Síria, estava sob o controlo total de Bashar al-Assad desde 2016, quando o exército conseguiu expulsar os rebeldes, com o apoio da Rússia e do Irão. Com pouco esforço, o Hayat Tahrir al-Sham desfez essa longa campanha militar.

Foi um “avanço meteórico”, como descreveu o Observatório Sírio para os Direitos Humanos. Logo nos primeiros três dias da chamada “ofensiva relâmpago” conquistaram mais de 50 localidades no noroeste do país, enquanto avançavam em direção a sul, à capital, Damasco, a cerca de 300 quilómetros de distância. Durante as conquistas, muitos membros do grupo extremista iam tirando fotografias e destruindo símbolos do regime, incluindo estátuas.

Abaixo de Idlib e de Alepo, Hama foi outra cidade que se tornou palco de confrontos entre o HTS e as forças do Governo e acabou por ser igualmente capturada, ao sexto dia. A ofensiva foi decorrendo sem grande resistência por parte do exército, que desde o início da guerra civil, em 2011, dependia fortemente de forças externas, incluindo russas e iranianas.

Rumo à capital, a maior cidade

A ofensiva dependeu de um alinhamento quase perfeito para as forças que se opõem a Assad, como salienta a agência Reuters, que ouviu fontes familiarizadas com a operação. O exército sírio estava desmoralizado e exausto, os seus principais aliados — o Irão e o Hezbollah libanês — estavam gravemente enfraquecidos pelo conflito com Israel, e o outro principal apoiante militar, a Rússia, estava distraído com a guerra na Ucrânia e a perder o interesse.

Esta ofensiva não ocorreu sem o aval da Turquia, que é a favor da oposição a Bashar al-Assad, tem tropas no noroeste da Síria e dá apoio a alguns dos rebeldes, disseram ainda duas fontes à Reuters em anonimato. Ao contrário da Rússia e do Irão, a Turquia saiu agora em vantagem enquanto o ator externo mais poderoso da região.

Depois de controlarem totalmente Hama ao nono dia, os rebeldes continuaram a rumar a sul, entrando por Homs, mesmo contra os vários ataques aéreos levados a cabo pelas forças governamentais sírias. Homs é a terceira maior cidade da Síria e liga a capital às zonas costeiras. Dois dias depois, os combatentes chegaram a Damasco e tomaram a capital às primeiras horas da madrugada deste domingo.

Terminou assim a operação que depôs o Presidente Bashar al-Assad e derrubou o seu regime. Assad, que governou durante 24 anos, fugiu do país e está agora refugiado em Moscovo com a sua família. A Rússia concedeu-lhe asilo político por “razões humanitárias”, adiantou fonte do Kremlin às agências nacionais.

Veja em baixo a evolução das movimentações no terreno ao longo dos dias:

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