
As autoridades norte-americanas estão a investigar a morte de um homem negro, num caso que está a ser comparado com o homicídio de George Floyd. As comparações surgem após a divulgação de um vídeo que mostra quatro seguranças de um hotel a imobilizar à força o homem, enquanto este grita por ajuda.
De acordo com o Time, o incidente aconteceu a 3 de junho, no Hotel Hyatt Regency de Milwaukee, no Estado norte-americano do Wisconsin. A vítima mortal foi identificada como Dvontaye Mitchell, de 43 anos, que deixa dois filhos, de 6 e 8 anos.
Segundo a Polícia de Milwaukee, Mitchell terá “causado distúrbios” ainda dentro do hotel e “lutado com os seguranças enquanto o retiravam para a rua”.
Num comunicado divulgado na rede social X, o advogado da família adiantou que a polícia esclareceu que o homem ficou detido até à chegada das autoridades. Mitchell foi encontrado inconsciente e o óbito acabou por ser declarado no local.
A polícia não adiantou mais pormenores sobre o incidente, mas os vídeos que circulam nas redes sociais mostram aquilo que aconteceu à porta do hotel.
Nas imagens, aparecem quatro seguranças a manter Mitchell à força no chão. Um dos seguranças tem o joelho nas costas da vítima e outro segura nas suas pernas. Um terceiro segurança pode ser visto a usar a força para impedir que o homem se levante.
Uma testemunha garantiu ter visto um dos guardas a bater na cabeça de Mitchell “com um objeto”.
Enquanto tudo isto acontece, pode-se ouvir Mitchell a gritar e a pedir várias vezes por ajuda, e um guarda a dizer “Fica deitado”. A certa altura, um dos guardas dirige-se à pessoa que está a filmar e diz: “Isto é o que acontece quando entras na casa de banho das mulheres”.
Entrar na casa de banho das mulheres “não devia ser uma sentença de morte”
Quem o diz é o advogado da família, Ben Crump, que, ainda assim, não confirma se isto aconteceu realmente. No comunicado, a defesa falou em problemas de saúde mental e admitiu que a vítima podia estar a sofrer uma crise durante o incidente.
Crump disse que as circunstâncias da morte são “perturbadores” e “conforme descrito por uma testemunha, fazem lembrar o assassinato de George Floyd”.
"É profundamente preocupante que tenhamos perdido outro homem negro num ‘encontro’ com pessoal da segurança, o que levanta sérias preocupações sobre o uso da força, falta de responsabilização e ausência de considerações sobre a saúde mental."
Numa conferência de imprensa, esta segunda-feira, junto ao hotel, Crump afirmou que a “força excessiva” usada pelos guardas levou à morte de Mitchell, que estava desarmado. Exigiu ainda que sejam feitas acusações contra os guardas.
“Depois de George Floyd, todos na América deveriam treinar os seus funcionários, especialmente as forças de segurança, para não colocarem os joelhos nas costas e no pescoço das pessoas. E quando as pessoas estiverem com problemas para respirar, não as mantenham deitadas.”
Um porta-voz do hotel esclareceu que foi aberta uma investigação interna e que os guardas envolvidos no incidente foram suspensos.
A polícia de Milwaukee confirmou que não foram feitas acusações e que não está a considerar a abertura de uma investigação criminal, uma vez que não há evidências de "força bruta".
Segundo a autópsia preliminar, a causa da morte de Dvontaye Mitchell é homicídio.
O caso de George Floyd
George Floyd morreu a 25 de maio de 2020, depois de um agente da polícia ter usado o joelho para o imobilizar, pressionando o pescoço do homem contra o chão durante cerca de nove minutos e meio.
Um vídeo divulgado por uma testemunha mostrava os gritos de Floyd, a pedir por ajuda e a dizer, várias vezes, que não conseguia respirar.
Depois da divulgação das imagens nas redes sociais, sucederam-se protestos contra a violência policial e o racismo em dezenas de cidades norte-americanas, algumas das quais foram palco de atos de pilhagem. Os protestos também correram mundo e o caso está na origem domovimento #BlackLivesMatter.
Os quatro polícias envolvidos no incidente foram despedidos e condenados a penas de prisão.