"Esta contribuição é dedicada ao suporte às pessoas de Moçambique, especialmente os afetados pelo terrorismo e desastres naturais em Cabo Delgado", disse o embaixador da Coreia do Sul em Moçambique, Bok Won Kang, ao anunciar o fundo, em Maputo.

O fundo de um milhão de dólares (881 mil euros) vai ser aplicado pela Organização Internacional das Migrações (OIM) em Moçambique, em distritos de Cabo Delgado afetados pelos ataques armados desde 2017, devendo igualmente beneficiar as vítimas dos últimos três ciclones que assolaram o país.

O fundo deverá contribuir com "soluções de longo prazo", sendo aplicado para a segurança alimentar, infraestruturas resilientes, combate à desnutrição, higiene, fornecimento de água potável, saúde e proteção das crianças em situação de vulnerabilidade, conforme avançou a OIM.

"A intervenção concreta será em infraestruturas e em ações baseadas nas necessidades da comunidade e definiu-se assim para se criar o maior nível de impacto possível", disse o gestor de programas de abrigo da OIM, Dinis Zacarias, durante o anúncio do fundo pela Coreia do Sul.

A província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.

Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos na província, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo dados divulgados recentemente pelo Centro de Estudos Estratégicos de África, uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano que analisa conflitos em África.

Moçambique está no fim da época chuvosa, que decorre entre outubro e abril, período em que, além do Jude, registou ainda os ciclones Chido, em 14 de dezembro, e Dikeledi, em 13 de janeiro, matando 313 pessoas e deixando um rasto de destruição.

O ciclone Jude, o mais recente a afetar o país, entrou em Moçambique através do distrito de Mossuril, tendo feito, pelo menos, 43 mortos, dos quais 41 em Nampula, afetando ainda Tete, Manica e Zambézia, no centro, e Niassa e Cabo Delgado, no norte.

As Nações Unidas prometeram em 27 de março defender junto do Governo moçambicano a inclusão do financiamento às tecnologias geoespaciais através do Orçamento do Estado, por serem importantes para reduzir impactos dos desastres naturais.

"Podemos fazer uma advocacia para os Estados-membros das Nações Unidas investirem nestas tecnologias geoespaciais (...), temos de continuar a elevar este assunto no nível político para que o Governo [moçambicano] se comprometa a financiar através do Orçamento do Estado", disse a coordenadora residente das Nações Unidas em Moçambique, Catherine Sozi.

Moçambique é considerado um dos territórios mais severamente afetados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, mas também períodos prolongados de seca severa.

As Nações Unidas anunciaram que precisam de 222 milhões de dólares (196 milhões de euros) para assistir este ano a cerca de 1,4 milhões de moçambicanos afetados pela seca associada ao fenómeno climático 'El Niño', referindo que, deste valor, apenas 41,5 milhões de dólares (37 milhões de euros), o correspondente a 19%, foi desembolsado.

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