Em abril de 2024, seis meses depois dos ataques do Hamas de 7 de Outubro, houve uma janela para um cessar-fogo na Faixa de Gaza. O primeiro-ministro israelita liderava as negociações para uma trégua prolongada, que envolvia a mediação do Egito. Mas em Telavive, a pressão sobre Benjamin Netanyahu falou mais alto. Os ministros mais radicais do Governo, sustentado por uma frágil coligação, avisaram: a guerra ou o poder.

Numa extensa investigação publicada esta sexta-feira, o New York Times revela os bastidores desse processo, com detalhes pormenorizados de reuniões secretas, documentos e registos alterados.

Belazel Smotrich, ministro das Finanças, e Itamar Ben-Gvir, da Segurança Interna, terão sido decisivos para travar a decisão do chefe do Executivo, que parecia determinado a avançar para um cessar-fogo prolongado de pelo menos seis semanas.

Segundo o NYT, numa reunião no ministério da Defesa, sem que o tema estivesse na agenda, Smotrich disse ter ouvido rumores sobre o plano e deixou clara a sua oposição: “Quero que saiba que se avançar com um acordo de rendição como esse, deixa de ter Governo”, terá afirmado. “O Governo acabou”.

Netanyahu teve de escolher: há muito envolvido em processos por suspeitas de corrupção, ficaria numa situação delicada se fosse afastado do poder. As sondagens mostravam que perderia se houvesse eleições antecipadas. E terá sido aí que deu a ordem para não avançar com o plano de tréguas.

A investigação jornalística publicada esta sexta-feira contém também detalhes anteriores aos ataques de 7 de Outubro, que reacenderam o conflito israelo-palestiniano, e sobre o papel de Benjamin Netanyahu na cadeia de acontecimentos que levou a esse dia.