A China comprometeu-se quinta-feira a abrir os seus mercados aos países insulares do Pacífico e a reforçar o apoio à luta contra as alterações climáticas, à medida que Washington retira o apoio àquela região estratégica.

Após uma cimeira na cidade chinesa de Xiamen com os homólogos de 11 países insulares do Pacífico Sul, o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, prometeu a doação de dois milhões de dólares (1,75 milhão de euros) para combater as alterações climáticas na região e ofereceu-se para acelerar as negociações de acordos comerciais bilaterais ao abrigo dos quais a região poderia exportar mais para a China.

A postura de Pequim surge em contraste com o Governo norte-americano de Donald Trump que, após tomar posse em janeiro passado, decidiu eliminar mais de 90% dos contratos de ajuda externa da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e 60 mil milhões de dólares (58 mil milhões de euros) em assistência geral em todo o mundo.

Trump impôs ainda taxas alfandegárias sobre produtos oriundos do exterior, incluindo dos países mais pobres, e retirou-se das negociações sobre o clima.

Num comunicado conjunto emitido após a cimeira de dois dias, os países destacaram os progressos realizados em matéria de projetos de infraestruturas e de assistência, bem como a expansão dos intercâmbios em vários domínios económicos e sociais.

No documento afirmou-se que "a assistência da China aos países insulares do Pacífico não está sujeita a condições políticas, não visa terceiros e não fornece 'cheques em branco'", ao mesmo tempo que exortou estas nações a defenderem a sua autonomia e a darem prioridade ao desenvolvimento.

"A China declarou que continuará a dar apoio e assistência aos países insulares do Pacífico para desenvolverem as suas economias e melhorarem as condições de vida das suas populações, dentro das suas possibilidades", lê-se no texto, publicado no portal do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

As duas partes concordaram em identificar questões prioritárias de cooperação, incluindo a resposta às alterações climáticas, redução da pobreza e desenvolvimento, prevenção de catástrofes, agricultura e formação policial.

A mudança de lealdade diplomática das Ilhas Salomão de Taiwan para a China, em 2019, seguida de mudanças semelhantes em Kiribati (2019) e Nauru (2024), marcou a emergência de Pequim como um importante ator na região, que é vista como sendo estratégica.

Estes países estão situados numa vasta área do Pacífico que cobre importantes rotas marítimas entre a Ásia, as Américas e a Austrália e é crucial para o controlo ou monitorização do espaço aéreo e marítimo do Indo-Pacífico --- uma região central na geopolítica atual.

A localização facilita ainda o posicionamento de bases militares, de radar e de comunicações.

Estas ilhas podem também servir como pontos de apoio logístico, reabastecimento naval e posicionamento de forças em cenários de conflito, como serviram durante a Segunda Guerra Mundial.

A aproximação entre China e Ilhas Salomão gerou preocupações entre as potências dominantes da região, os EUA e a Austrália, sobre a crescente influência de Pequim. Os países aliados temem a abertura de uma base militar chinesa no país insular, ao abrigo de um pacto de segurança bilateral assinado em 2022.

Após a cimeira desta semana, Pequim e os países insulares concordaram em explorar a viabilidade económica de estabelecer mais voos diretos entre a China e estes países.

Também instaram as economias desenvolvidas a "desempenhar um papel de liderança nos esforços internacionais para mitigar as alterações climáticas e aumentar a resiliência climática", dada a vulnerabilidade dos países insulares do Pacífico ao aquecimento global.

Entre os países representados na reunião em Xiamen estão as Ilhas Salomão, Kiribati, Nauru, Niuê, Tonga, Micronésia, Vanuatu, Papua-Nova Guiné, Ilhas Cook, Fiji e Samoa.

Ausentes estão Palau, Tuvalu e as Ilhas Marshall, os restantes três países insulares do Pacífico que mantêm relações diplomáticas com Taiwan.