No dia que o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump impôs uma multa de 25% à Índia por comprar combustível à Rússia, os senadores brasileiros que foram a Washington para tentar negociar o ‘tarifaço’ de 50% imposto ao Brasil, revelaram que também há pressão para que Brasília reveja a sua relação com Moscovo.

“Há outra crise pior que pode nos atingir em 90 dias. Tanto republicanos, como democratas foram firmes em dizer que vão criar uma lei para aplicar sanções automáticas para todos os países que negociam com a Rússia. E não será um decreto do presidente da República como foi o ‘tarifaço’, será uma lei americana. E os dois partidos apoiarão”, esclareceu o senador Carlos Viana.

Os parlamentares brasileiros escutaram, de senadores democratas e republicanos, que a Casa Branca quer que o Brasil interrompa ou, pelo menos, reduza a importação de combustível e fertilizantes do país europeu.

Se essa relação comercial continuar, o Brasil pode ser alvo de sanções, além do ‘tarifaço’. Como revelou o senador do PT pelo Rio de Janeiro, Jaques Wagner, 30% dos fertilizantes do agronegócio brasileiro vem da Rússia.

“Eles [os americanos] estão preocupados com acabar a guerra e acham que quem compra da Rússia dá munição para a Rússia continuar tendo recursos para continuar a guerra. Tanto é que estão tentando fazer uma lei que seja lida ainda antes do recesso aqui nos Estados Unidos. Então é um assunto sensível aqui para eles”, explicou a senadora Tereza Cristina, do Progressistas do Mato Grosso do Sul.

A revelação veio em uma coletiva de imprensa na embaixada brasileira em Washington, onde a comitiva brasileira fez um balanço dos três dias de compromissos com empresários e políticos norte-americanos.

O que os parlamentares brasileiros tentaram nesse período foi a prorrogação das tarifas, que passam a valer a partir do próximo dia 6 de agosto. Entretanto, esta quarta-feira, Donald Trump assinou o decreto, oficializando o ‘tarifaço' de 50%.

Há o consenso, no entanto, que os brasileiros conseguiram comunicar para a classe empresarial e política americana duas coisas.

Primeiro, que as tarifas vão prejudicar empresas dos dois países, o preço da madeira no Novo México, por exemplo, já subiu. Ela é importada de Santa Catarina, no sul do Brasil. E, segundo, que o ‘tarifaço’ não vai interferir no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado.

Os senadores comemoraram o fato de aquecer uma relação diplomática de 200 anos, que esfriou em 2025, mas questionaram porque o Brasil teve apenas 20 dias para se preparar para as tarifas, enquanto outras nações tiveram entre 60 e 90.

Encontros deixam porta do diálogo aberta

Os parlamentares do Brasil se reuniram com sete senadores democratas, um republicano e uma deputada democrata. Havia a perspectiva de encontros com mais republicanos, que pudessem repassar o posicionamento dos brasileiros, para Donald Trump.

Anthony Wells/SIC Notícias

O único foi o senador da Carolina do Norte Thom Tillis. Na agenda, estava um encontro com o republicano Lindsey Graham, mas ele não compareceu à uma das reuniões e não explicou a ausência. Há a suspeita que interferência externa tenha dificultado o encontro entre mais republicanos e a delegação brasileira.

Na classe política brasileira, há o entendimento de que até ao dia 6 de agosto, não se pode fazer mais nada. Porém, essa vinda da delegação brasileira a Washington foi importante para deixar o diálogo aberto para depois que o ‘tarifaço’ entrar em vigor.

Um encontro ou telefonema entre os dois presidentes ainda está na mesa. O Presidente Lula, em uma entrevista ao New York Times, disse que o Brasil está preocupado “mas não com medo” do ‘tarifaço’.