A associação ambientalista Zero defendeu hoje que os países têm de incluir nos planos climáticos todas as emissões da aviação, não apenas de dióxido de carbono (CO2), para cumprirem o Acordo de Paris.

"Os países que não incluem os efeitos não-CO2 da aviação estão a violar as suas obrigações climáticas", alegou a associação, em comunicado, numa posição sustentada numa análise jurídica realizada por especialistas em direito ambiental.

De acordo com a Zero, os efeitos não-CO2 da aviação estão estimados "em pelo menos metade do seu impacto climático total".

"O parecer independente, encomendado pela Federação Europeia de Transportes e Ambiente (T&E), de que a Zero faz parte, e pela Opportunity Green, mostra que os países têm a obrigação legal de incluir estas emissões nas suas metas climáticas (Contribuições Nacionalmente Determinadas -- NDC em inglês)", escreveu a associação

De acordo com a Zero, estes compromissos são apresentados a cada cinco anos no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, devendo as próximas ser anunciadas antes da COP30, que se realiza a partir de 10 de novembro em Belém, no Brasil.

As metas do Acordo de Paris baseadas na temperatura obrigam os países a terem planos para limitar o aquecimento global.

"Está cientificamente provado que há efeitos não relacionados com as emissões de dióxido de carbono dos aviões -- como os rastos de condensação, as linhas brancas no céu deixadas pelas aeronaves -- que contribuem para o aquecimento global", sublinharam os ambientalistas.

Esses efeitos, segundo a Zero, têm um impacto no planeta "igual ou superior" aos das emissões de CO2 da aviação.

"Considerar todos os efeitos da aviação nos planos climáticos é imperativo jurídico. Há 25 anos que os cientistas alertam sobre o efeito dos rastos de condensação no aquecimento no clima", sublinhou a organização.

"Quando existem indícios científicos de um risco ambiental, mesmo perante alguma incerteza, deve ser adotada uma abordagem preventiva -- que neste caso deve incluir medidas para lidar com os impactos não relacionados com o CO2 da aviação", refere o parecer jurídico, citado pela Zero.

A associação pretende que os efeitos não relacionados com o CO2 sejam incluídos na próxima ronda de contribuições nacionais, a apresentar antes da COP no Brasil.

A União Europeia deverá apresentar essas metas em nome de todos os Estados-Membros até setembro de 2025, reiterou a associação.

Os efeitos não-CO2 da aviação incluem os óxidos de azoto (NOx), dióxido de enxofre (SO2), os rastos de condensação, vapor de água e partículas.