O Papa Bento XVI morreu hoje aos 95 anos, anunciou o Vaticano. O seu estado de saúde tinha-se agravado nos últimos dias e esta quarta-feira o Papa Francisco tinha mesmo pedido uma oração pelo Papa emérito, explicando que estava "muito doente". Os pontos de situação sobre a sua saúde feitos desde então davam a entender que a sua condição era muito grave.

"Gostaria de pedir-vos a todos uma oração especial, pelo Papa emérito Bento [XVI], que no silêncio está a sustentar a Igreja. Recordai-o, está muito doente, pedindo ao Senhor que o console e o sustente, neste testemunho de amor à Igreja, até ao fim", disse o Papa Francisco na sua audiência pública semanal.

Joseph Aloisius Ratzinger nasceu em Marktl am Inn (no Estado da Baviera, na Alemanha), no dia 16 de abril de 1927, um Sábado de Aleluia, e passou a sua infância e adolescência em Traunstein, uma pequena localidade perto da Áustria.

Sobrinho-neto de um sacerdote e político que durante o século XIX defendeu um esboço do que viria a ser a moderna doutrina social da Igreja, Joseph descobriu a sua vocação sacerdotal com apenas 5 anos de idade.

Aos 14 anos de idade ingressou na Juventude Hitleriana por imposição legal que impendia desde 1939 sobre todos os jovens que atingissem essa idade. Foi também nesse ano que viu um seu primo da mesma idade ser morto pelo regime ao abrigo do seu “programa eugénico” em virtude de ter Síndrome de Down.

Nos últimos meses da II Guerra Mundial (1939-1945), foi incorporado nos serviços auxiliares antiaéreos pelo regime nazi.

Juntamente com o seu irmão Georg, falecido em Julho de 2020, foi ordenado Padre, em Freising, na Baviera, a 29 de junho de 1951; dois anos depois, doutorou-se em Teologia com a tese ‘Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho’.

De 1962 a 1965, participou no Concílio Vaticano II como ‘perito’, após ter chegado a Roma como consultor teológico do cardeal Joseph Frings, arcebispo de Colónia. Ratzinger era então visto como um reformista

Em 24 de março de 1977, o Papa Paulo VI nomeou-o arcebispo de Munique e Freising e escolheu como lema episcopal ‘Colaborador da verdade’, extraído do Evangelho segundo S. João.

O mesmo Paulo VI criou-o cardeal, no consistório de 27 de junho de 1977: no Conclave de 2005 ele seria um dos apenas 14 Cardeais restantes dos escolhidos por Paulo VI e um dos únicos 3 com menos de 80 anos de idade.

Em 1978, participou no Conclave que elegeu João Paulo I e no mês de outubro desse mesmo ano, participou também no Conclave que elegeu João Paulo II. O Papa nomeou-o como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional. Em 1997, quando atingiu os 70 anos, pediu ao Papa para abandonar a Congregação para a Doutrina da Fé e ficar como bibliotecário na Bilbioteca do Vaticano mas João Paulo II não concordou com essa pretensão.

Ratzinger viria a suceder-lhe no dia 19 de abril de 2005, data em que foi eleito como o 265.º Papa: tinha 78 anos. Desde Clemente XII, no século XVIII; que nenhum Cardeal tão idoso era escolhido para Papa e há quase 630 anos que a Igreja Católica não tinha dois “não italianos” consecutivamente como Papas.

Menos de oito anos depois,  a 11 de fevereiro de 2013, Dia Mundial do Doente e memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, anunciou a renúncia ao pontificado, uma decisão inesperada e inédita na história na Igreja Católica. Durante o seu pontificado fez 24 viagens ao estrangeiro, incluindo uma a Portugal em Maio de 2010.

O Papa Bento XVI assinou três encíclicas: ‘Deus caritas est’ (Deus é amor), ‘Spe salvi’ (Salvos na esperança) e ‘Caritas in Veritate’ (A caridade na verdade) e presidiu a três Jornadas Mundiais da Juventude (Colónia, Sidney e Madrid), para além de ter convocado cinco Sínodos dos Bispos, um Ano Paulino, um Ano Sacerdotal e um Ano da Fé.

No seu pontificado foram canonizados 44 santos em 10 cerimónias, incluindo o português Nuno de Santa Maria (D. Nuno Álvares Pereira) em 2009. Foi também Bento XVI quem canonizou a primeira índia: a mohawk canadiana Kateri Tekakwitha.

Portugal passou a ter também duas novas beatas durante o pontificado de Bento XVI: Rita Amada de Jesus (beatificada a 28 de maio de 2006, em Viseu) e a Madre Maria Clara (21 de maio de 2011, Lisboa).