Berlim realizou na quinta-feira as cerimónias fúnebres para cinco nativos australianos cujos restos mortais serão devolvidos a este país, quase 150 anos depois de terem sido saqueados durante a era colonial.

Dois corpos mumificados, dois crânios e um tradicional "conjunto funerário" foram retirados de cemitérios australianos e trazidos para a Alemanha por volta de 1880, disseram os investigadores na cerimónia no Museu Etnológico de Berlim.

O museu, bem como o da natureza e do homem em Oldenburg (noroeste), vão enviá-los de volta para a Austrália, no âmbito dos esforços de Berlim para reparar os crimes cometidos durante a era colonial.

Os caixões foram cobertos com bandeiras tradicionais, sob cânticos de representantes das comunidades aborígenes australianas, acompanhados de tambores, cerimónias "profundamente importantes", destacou a embaixadora australiana em Berlim Natasha Smith.

"Estes repatriamentos são da mais alta prioridade" para as comunidades aborígenes da Austrália e das ilhas do Estreito de Torres, bem como para o governo, acrescentou.

Os museus de Berlim e as suas reservas estão repletos de milhões de objetos trazidos pelas expedições científicas que percorreram o mundo a partir de meados do século XIX.

"Estes restos ancestrais nunca deveriam ter estado aqui", salientou Hermann Parzinger, presidente da Fundação do Património Cultural Prussiano (SPK), que gere o Museu Etnológico de Berlim.

Alemanha começou gradualmente a recordar o seu passado colonial

Os restos mortais são de três mulheres, um homem e uma pessoa de sexo não identificado, elevando para 162 o número total de restos mortais devolvidos pela Alemanha à Austrália, segundo Smith.

Ao longo dos últimos vinte anos, a Alemanha começou gradualmente a recordar o seu passado colonial. O império colonial alemão, mais pequeno do que o dos franceses ou dos britânicos, estendeu-se por vários países africanos, entre os quais o Burundi, o Ruanda, a Tanzânia, a Namíbia e os Camarões. Deixou de existir após a Primeira Guerra Mundial.

O país já devolveu à Namíbia ossos de membros das tribos Herero e Nama, bem como "bronze do Benim", originários do que é hoje a Nigéria.

Foram ainda realizadas investigações em 1.100 crânios da antiga África Oriental alemã, com o objetivo de devolver os restos mortais aos países envolvidos.

"Nos últimos anos, a nossa abordagem a certas questões evoluiu significativamente", sublinhou Parzinger, lembrando que o período nazi "há muito que obscurece a visão do papel da Alemanha no colonialismo".