A Alemanha vai terminar o apoio financeiro às organizações não-governamentais de resgate de civis no Mediterrâneo e noutras áreas, anunciaram esta quarta-feira fontes da diplomacia de Berlim, num novo sinal do endurecimento da política migratória alemã.

"O Governo federal já não planeia fornecer subsídios a ONG envolvidas no resgate de civis", informaram fontes do Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão à agência de notícias France-Presse (AFP).

A decisão do Governo, que tomou posse no início de maio, marca uma mudança de rumo em relação à política seguida pela anterior coligação no executivo, que defendia este tipo de ajuda.

No primeiro trimestre deste ano, ainda foram transferidos 900 mil euros às organizações envolvidas, após um total de dois milhões de euros em 2024, indicou uma fonte ministerial.

As ONG que beneficiaram deste financiamento incluem a SOS Humanity, a SOS Méditerranée, a Reqship, a Sea-Eye e a Sant'Egidio, que trabalham no resgate de migrantes no Mediterrâneo, uma das rotas migratórias mais mortíferas do mundo.

"Só irá agravar a crise humanitária no Mediterrâneo"

Em reação à interrupção da ajuda de resgate marítimo, a líder dos Verdes, Britta Hasselmann, comentou à AFP que é uma "decisão dramática", acreditando que "só irá agravar a crise humanitária no Mediterrâneo".

O presidente da Sea-Eye, Gorden Isler, lamentou o "sinal catastrófico" de que as organizações poderão ser "forçadas a permanecer no cais, apesar das emergências no mar".

A ex-chefe da diplomacia alemã Annalena Baerbock (Verdes) justificou esta ajuda apesar das críticas de que as ONG estavam, mesmo que involuntariamente, a facilitar as atividades dos traficantes de pessoas.

Antes de se tornar chanceler federal, o líder da conservadora CDU (CDU), Friedrich Merz, afirmou repetidamente que só uma política migratória altamente restritiva podia conter a ascensão do partido de extrema-direita AfD na Alemanha.

Ao assumir o comando do Governo, em coligação com os sociais-democratas (SPD), anunciou várias medidas para limitar a entrada de requerentes de asilo na Alemanha, incluindo a rejeição da maioria nas fronteiras terrestres do país.

Das 21 ONG que participam na frota de resgate no Mediterrâneo central, dez são alemãs, informou em meados de junho um coletivo destas organizações, segundo o qual mais de 175 mil migrantes foram resgatados durante operações realizadas nos últimos dez anos.

Com Lusa