O que é exatamente a rinossinusite crónica com polipose nasal e como se diferencia de outras patologias, como a rinite alérgica ou a sinusite aguda?
A rinossinusite crónica com pólipos nasais é uma doença inflamatória das cavidades nasais e dos seios perinasais, que dura mais de três meses e caracteriza-se pelo crescimento de pólipos nos seios perinasais com extensão à fossa nasal. Os principais sintomas incluem obstrução nasal, dores de cabeça, sensação de peso facial, escorrência nasal e, frequentemente, diminuição ou ausência de olfato.

Esta condição diferencia-se de outras doenças, como por exemplo uma rinossinusite sem pólipos, onde o olfato costuma manter-se intacto. Nos casos com pólipos, muitas vezes, existe uma componente alérgica, mas podem ocorrer noutros contextos inflamatórios. O diagnóstico é essencialmente clínico, confirmado através de observação direta e por endoscopia nasal, complementado por TC e análises laboratoriais.

Qual é o impacto desta doença na qualidade de vida dos doentes?
O impacto na qualidade de vida varia muito de pessoa para pessoa, dependendo da importância que cada um atribui ao olfato e à obstrução nasal. Há quem não valorize muito a perda do olfato, mas, quando em consulta alertamos para os sintomas, as pessoas começam a perceber.

A doença pode ter um impacto significativo a nível da qualidade de vida. Há pessoas que se queixam de terem uma congestão nasal acentuada, ou seja, não respiram pelo nariz e a qualidade do sono acaba por estar deteriorada. Há doentes que não valorizam, mas, chamando a atenção, percebem; muitos outros doentes vêm à consulta com queixas de sono de má qualidade, fadiga diurna e, em casos mais graves, limitações nas atividades profissionais, especialmente se dependem do olfato.

Além disso, o olfato assume uma importância significativa para reconhecer sinais de alarme do nosso dia-a-dia, como o cheiro a comida estragada ou cheiro a fumo — reconhecer um incêndio, por exemplo, é extremamente importante.

Existe algum grupo populacional mais afetado por esta condição?
Sim. As pessoas com doenças alérgicas, sobretudo asma alérgica, mas também outras e manifestações de alergia como dermatite atópica, têm maior tendência a desenvolver rinossinusite crónica com pólipos.

Quais são os principais fatores de risco para a formação de pólipos nasais?
Além da predisposição genética, a exposição a poeiras e a agentes irritativos (por exemplo, em certos ambientes profissionais) agrava a inflamação da mucosa nasal e aumenta a probabilidade de pólipos. Nas pessoas alérgicas, a resposta imunitária exagerada a estímulos ambientais normais também contribui para a formação destas lesões.

Como já referiu, o diagnóstico é predominantemente clínico, mas quais os principais desafios e ferramentas diagnósticas essenciais?
O diagnóstico em si não é difícil; baseia-se na história clínica, nos sintomas e no exame objetivo. Para avaliar a extensão da doença, realizamos endoscopia nasal e, frequentemente, TC.

Quais são as abordagens terapêuticas mais eficazes atualmente?

O tratamento depende da extensão da doença. Para casos ligeiros, o tratamento médico -, como lavagens nasais, corticosteroides nasais e, por vezes, corticoides orais – é o mais indicado. Nos casos mais extensos e que não respondem ao tratamento médico, a cirurgia funcional endoscópica nasal, complementa o tratamento médico.
Recentemente, surgiram medicamentos biológicos, usados quando há falência do tratamento médico e cirúrgico.

Quando consideram que houve falência do tratamento cirúrgico?
Esta doença tem uma elevada tendência para recidivar, pois está relacionada com fatores endógenos. A cirurgia associada à aplicação crónica tópica de corticoides controla a doença em cerca de 70–80% dos casos, mas 20–30% dos doentes apresentam recidiva dos pólipos devido à persistência da inflamação.

Os medicamentos biológicos podem resolver o problema a longo prazo?
Atualmente, os medicamentos biológicos não curam, mas controlam a doença. É uma doença crónica, tal como o da diabetes ou da hipertensão. Há estudos recentes que sugerem que, em casos muito pontuais, se poderá descontinuar o fármaco e manter a remissão, mas ainda carecemos de dados a longo prazo.
De qualquer forma, hoje em dia, o que está preconizado é a manutenção do tratamento. O que se pode fazer é alargar os períodos entre as tomas, que são feitas mensalmente ou quinzenalmente. Pensa-se que, após 2 a 3 anos de tratamento, se poderá começar a espaçar as tomas, mas ainda é tudo muito recente e não temos experiência a longo prazo.

Que avanços espera ver no futuro?
No que diz respeito à rinossinusite crónica com pólipos, a indústria farmacêutica está a desenvolver fármacos dirigidos a alvos moleculares da cascata inflamatória que dá origem aos pólipos cada vez mais concretos, o que tornará o tratamento mais eficaz e com menos efeitos adversos. Talvez, a longo prazo, consigamos alcançar uma resolução da doença.

Quais são os sinais de alerta para que um médico de família referencie um doente com sintomas iniciais para otorrinolaringologia?
Obstrução nasal constante e que não responde ao tratamento habitual, cefaleias e perda de olfato.
Também é importante estar alerta para sinais que podem sugerir patologias oncológicas, como unilateralidade dos sintomas, sangramento, dores intensas, evolução progressiva e sintomas oculares — exceto o olho vermelho e lacrimejo intermitente, que os doentes alérgicos têm com frequência.

Sílvia Malheiro

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