
Após aproximadamente 433 horas, 20 dias e 320 órbitas ao redor do planeta Terra, cobrindo cerca de 13 milhões de quilómetros desde o lançamento até ao regresso, a quarta missão da Axiom Space (AX-4) concluiu-se com sucesso. A comandante Peggy Whitson, o piloto Shubhanshu Shukla, e os especialistas Sławosz Uznański-Wiśniewski e Tibor Kapu retornaram à Terra, encerrando uma missão que não foi apenas um triunfo científico, mas também um marco histórico para a Índia, Polónia e Hungria.
Pela primeira vez, em mais de quatro décadas, estas nações lançaram astronautas nacionais ao espaço, que viveram e trabalharam a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS), abrindo caminho para futuras missões e ampliando a participação global na exploração espacial. A tripulação trouxe consigo dados científicos impactantes e testemunhos de trabalho em equipa e perseverança, demonstrando que a ciência, quando unifica nações, é o veículo que nos permite ir mais longe — não apenas em distância, mas no que somos capazes de alcançar juntos.
Experiências científicas de destaque na AX-4 e o potencial terapêutico de fármacos para o tratamento do cancro
Os laboratórios em microgravidade são verdadeiros catalisadores para o avanço científico, oferecendo condições impossíveis de replicar na Terra e abrindo caminhos para a medicina, biologia, ciência dos materiais e outras áreas essenciais para o futuro da humanidade. A pesquisa em microgravidade acelera processos biológicos, como o crescimento tumoral, permitindo que em poucos dias se observem efeitos que na Terra demorariam anos. Isso oferece uma oportunidade única para testar a eficácia de alguns farmacos e compreender melhor a biologia do cancro, acelerando o desenvolvimento de tratamentos que podem salvar milhões de vidas no futuro.
Entre as mais de 60 experiências conduzidas durante a missão AX-4, destaca-se o estudo do dois fármacos experimentais, desenvolvidos para combater vários tipos de cancro, incluindo leucemia, cancro de ovário, cancro de mama metastático e glioblastoma multiforme. Estes fármacos atuam como um “interruptor de morte” para células cancerígenas ao bloquear o gene ADAR1, responsável pela progressão e resistência do cancro.
Ciência e desporto - MotoGP como laboratório vivo de inovação humana
No universo da MotoGP, vemos a ciência aplicada diariamente no limite da performance humana. A temporada de 2025 tem sido marcada por feitos extraordinários, como a impressionante prestação de Marc Márquez, que regressou ao topo do pódios após anos de desafios físicos e técnicos. O Marc é reconhecido pela sua resiliência e capacidade de adaptação, e a conquista de várias vitórias e pódios nesta temporada, demonstra que a combinação entre avanços médicos, preparação física de excelência e inovação tecnológica pode prolongar e elevar a carreira de um atleta de elite. Outro exemplo inspirador é o do seu irmão Álex Márquez, que após uma lesão (fractura da mão), protagonizou uma recuperação notável e em apenas 2 semanas, graças à aplicação de protocolos médicos avançados, fisioterapia intensiva e suporte multidisciplinar. O pináculo deste processo culminou no segundo lugar do pódio no Grande Prémio da Alemanha em Sachsenring, resultado esse que, há poucos anos, seria considerado improvável após uma lesão de tal gravidade.
Este feito não só evidencia o progresso da medicina desportiva, mas serve de inspiração para futuras gerações, mostrando que a ciência pode redefinir os limites do corpo humano e acelerar a recuperação, permitindo que atletas regressem rapidamente ao mais alto nível competitivo.
Estes exemplos na MotoGP refletem a mesma lógica de superação e inovação que vemos na exploração espacial: a ciência como fio condutor entre o impossível e o realizável, entre o sonho e a conquista. A performance dos irmãos Márquez em 2025 não é apenas uma vitória pessoal, mas um testemunho do poder transformador da investigação científica aplicada ao desporto, incentivando jovens a valorizar a educação, a resiliência e a busca pelo conhecimento.
Ciência, sustentabilidade e o futuro
A busca pelo melhor de nós próprios inspira crianças e jovens a sonhar mais alto, valorizar a educação STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e contribuir para uma sociedade mais justa, inclusiva e sustentável. Essa consciência global é parte integrante da formação de atletas e astronautas. No desporto motorizado, já se observa a integração de biocombustíveis, sistemas híbridos e elétricos, compensação de carbono e uso de materiais recicláveis. A Fórmula E é o primeiro desporto do mundo certificado como carbono líquido zero, reconhecida pelo Global Sustainability Benchmark in Sports (GSBS) como o mais sustentável do planeta.
Nas viagens espaciais, os foguetões reutilizáveis e o uso de combustível de metano, que produz menos carbono e poluentes, refletem um compromisso semelhante. Empresas como a Space X mantêm certificados de carbono líquido zero desde 2014 e investem em projetos de reflorestamento e energia renovável para compensar emissões residuais.
A exploração espacial, tal como o desporto, têm sido palcos de revoluções científicas que moldaram o progresso humano. Desde os primórdios da ciência moderna, com Galileo Galilei e Isaac Newton, passando pela formulação da equação do foguete por Konstantin Tsiolkovsky no século XIX, até à corrida espacial do século XX, cada avanço tecnológico e científico foi construído sobre o esforço coletivo e a curiosidade incessante da humanidade. É essa busca incessante pelo melhor de nós próprios, guiada pelo fio condutor da ciência, que permite o desenvolvimento contínuo da humanidade rumo a um futuro sustentável, integrando as mais variadas áreas da nossa existência enquanto humanos.
“Cada piloto tem o seu limite. O meu é um pouco acima do dos outros” — Ayrton Senna
Enquanto os meus astronautas regressam ao planeta Terra, assisto na MotoGP aos meus atletas a redefinir os limites da prestação desportiva, num desporto de alto risco que apaixona milhões em todo o mundo. Estes resultados só são possíveis graças aos avanços científicos que existiram ao longo da evolução dos processos de melhoria de performance humana e que, atualmente, permitem alcançar feitos que julgávamos impossíveis apenas há alguns anos atrás.
Que esta busca incessante, seja no espaço, nas pistas ou nos laboratórios, continue a inspirar gerações a transcender limites, a inovar e a construir um mundo onde a ciência e a cooperação sejam as bases para um futuro melhor para todos nós.
*fisiologista português encarregue da preparação dos astronaustas envolvidos na missão Axiom Space e de vários pilotos do automobilismo mundial
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