Cronologia dos principais acontecimentos dos 50 anos de independência de Moçambique, que se comemorar esta quarta-feira, 25 de junho.

As cerimónias oficiais, com a presença do Presidente moçambicano, Daniel Chapo, vão decorrer no Estádio da Machava, onde Samora Machel, primeiro Presidente moçambicano, proclamou a independência e contam com a presença de pelo menos 32 chefes de Estado, incluindo de Portugal, com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, e representantes de vários países.

Samora Machel
Samora Machel Michel Lipchitz

25 de junho de 1975: Proclamada a independência. O primeiro Governo, liderado por Samora Machel, tinha um total de 15 ministros, entre os quais os ex-Presidentes Armando Guebuza, como ministro do Interior, e Joaquim Chissano, como o ministro dos Negócios Estrangeiros. O primeiro executivo moçambicano tomou posse em 29 de junho de 1975, em cerimónia oficial em Maputo.

8 de agosto de 1976: Forças da Rodésia invadem Moçambique, alegadamente em perseguição de nacionalistas do Zimbabué. A África do Sul, que estava ainda sob domínio do regime segregacionista do 'aparheid', anuncia a realização de exercícios militares na fronteira.

17 de outubro de 1976: Formação da Resistência Nacional Moçambicasna (Renamo), movimento apoiado, no início, pelos serviços secretos da Rodésia. O antigo membro da Frelimo André Matsangaissa é libertado de um campo de reeducação acabando por instalar-se na Rodésia, onde recebe treino militar para liderar um grupo que viria a ser a principal força de oposição à governação da Frelimo - até as eleições gerais de 2024. O movimento de guerrilha é fundado em Salisbúria (Harare), sob a organização de Ken Flower, chefe dos serviços secretos rodesianos e Orlando Cristina, antigo membro da PIDE-DGS, a polícia política da ditadura portuguesa. As primeiras ações registam-se na Gorongosa, no centro de Moçambique.

25 de junho de 1977: Opositores políticos da Frelimo Joana Simeão, Uria Simango, Lázaro Nkavandame, Raul Casal Ribeiro, Arcanjo Kambeu, Júlio Nihia, Paulo Gumane e o padre Mateus Gwengere são internados no campo de reeducação de M'telela, Niassa, norte de Moçambique, tendo sido mortos no dia 25 de julho, segundo relatos atuais de partidos de oposição moçambicana.

17 de outubro de 1979: André Matsangaíssa, fundador da Renamo, morre num confronto contra as forças governamentais na região centro de Moçambique (Vila Paiva). Afonso Dhlakama é o novo líder da Renamo, que projeta o movimento num exército de guerrilha que vai dar início a 16 anos de guerra civil.

18 de abril de 1980: Independência do Zimbabué, liderado por Robert Mugabe, que depôs Ian Smith. A Renamo passa a ter como principal aliada a África do Sul, que ainda vivia sob domínio do 'aparheid'.

Robert Mugabe
Robert Mugabe Mike Hutchings

13 de abril de 1983: O secretário-geral da Renamo, Orlando Cristina, é assassinado numa base militar da África do Sul. Sucede-lhe Evo Fernandes, até então representante da Renamo em Portugal.

16 de março de 1984: África do Sul e Moçambique assinam acordo de Nkomati, que previa o fim das agressões mútuas, encerramento das bases do Congresso Nacional Africano (ANC) em Moçambique e o fim do apoio sul-africano à Renamo, um entendimento que não chegou a ser cumprido pelas duas partes.

Setembro de 1984: A Frelimo altera estratégias e ideologia políticas para conseguir apoio financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (BM).

19 de outubro de 1986: O primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel, morre num acidente de aviação em Mbuzini, nos montes Libombos (África do Sul), durante uma deslocação entre Lusaca (Zâmbia) e Maputo. A chefia do Estado é assumida por Joaquim Chissano.

Joaquim Chissano
Joaquim Chissano © Reuters Photographer / Reuter


21 de abril de 1988: Secretário-geral da Renamo, Evo Fernandes, é assassinado nos arredores de Cascais.

30 de julho de 1989: Em congresso, a Frelimo abandona oficialmente doutrina marxista-leninista.

30 de novembro de 1990: Moçambique adota uma nova Constituição que permite um sistema multipartidário. O país passa a chamar-se República de Moçambique, abandonando o nome República Popular de Moçambique. As companhias do Estado podem ser privatizadas. Liberdade de expressão e de formação de partidos políticos são constitucionalmente adotadas.

Novembro de 1991: Afonso Dhlakama, na altura líder da Renamo, visita Portugal.

29 de maio de 1991: Escritor moçambicano José Craveirinha vence a 3.ª edição do Prémio Camões.

04 de outubro de 1992: Acordo Geral de paz é celebrado em Roma, após cerca de dois anos de conversações mediadas pela Comunidade de Santo Egídio, para travar uma guerra civil dos 16 anos, que matou mais de um milhão de pessoas, direta e indiretamente.

15 de outubro de 1992: Cessar-fogo decretado oficialmente. A Renamo passa a ser um partido político.

27 de outubro de 1994: As primeiras eleições multipartidárias acompanhadas pela ONU e por observadores internacionais decorreram em três dias. Participam mais de seis milhões de eleitores, concorrem 14 partidos, sendo que as maiores formações partidárias são a Frelimo e a Renamo. Nas legislativas, a Frelimo vence as eleições com maioria absoluta, com 44 por cento, e Joaquim Chissano, do partido no poder, é eleito Presidente, com 54% de votos, embora o resultado tenha sido contestado por Dhlakama.

Janeiro de 1995: Moçambique passa a ser membro da Commonwealth.

29 de julho de 1996: Moçambicana Maria de Lurdes Mutola ganha a medalha de bronze nos 800 metros, em Atlanta, nos Jogos Olímpicos.

Dimitri Iundt

3 de janeiro de 1999: Joaquim Chissano volta a ganhar as eleições e a Frelimo mantém-se como partido maioritário no parlamento. A Renamo volta a rejeitar os resultados.

Fevereiro de 2000: O pior desastre natural que se abateu sobre o país devasta a província de Gaza, sul do país. Oficialmente, estima-se que perto de 800 pessoas perderam a vida durante quase cinco semanas de chuvas intensas entre março e abril daquele ano.

Agosto de 2000: Maria de Lurdes Mutola vence os 800 metros, em Sydney, nos Jogos Olímpicos, o maior marco desportivo do país no mundo até hoje.

Darren England

Novembro de 2000: Protestos da Renamo contra as eleições de 1999 acabam em confrontos em Montepuez, com a morte de pelo menos 40 pessoas. Poucas semanas depois, 83 pessoas que tinham sido presas nas manifestações morrem sufocadas numa cela de prisão com 21 metros quadrados.

16 de Novembro de 2000: O jornalista Carlos Cardoso, 49 anos, é assassinado numa rua do centro de Maputo, por homens armados com AK-47. Cardoso era um conhecido jornalista moçambicano que investigava vários casos de corrupção no país.

1 de dezembro de 2004: Armando Guebuza vence as eleições presidenciais, com 63 por cento dos votos. Dhlakama volta a rejeitar os resultados e o escrutínio é criticado por organizações internacionais.

28 de outubro de 2009: Armando Guebuza é reconduzido ao cargo de Presidente do país, com 75 % dos votos. O Movimento Democrático de Moçambique (MDM), de Daviz Simango, afirma-se como terceira força parlamentar.

27 de maio de 2013: Escritor moçambicano Mia Couto foi o vencedor da 25.ª edição do Prémio Camões.

Mia Couto
Mia Couto Horacio Villalobos / Getty Images


30 de junho de 2013: Início de vários ataques de elementos armados na Estrada Nacional 1, que liga o sul e o norte do país. O Governo responsabiliza diretamente o braço armado da Renamo.

21 de outubro de 2013: Forças governamentais tomam a base da Renamo na Gorongosa. A Renamo anuncia o fim do Acordo de Paz de 1992.

5 de setembro de 2014: Para acabar com meses de violência entre o exército e os ex-guerrilheiros, o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, assinam um novo pacto: Acordo sobe a Cessação das Hostilidades Militares em Moçambique.

15 de outubro de 2014: Eleições presidenciais dão a vitória a Filipe Nyusi, com 57 por cento dos votos. A Frelimo mantém a maioria absoluta. Dhlakama não aceita os resultados e ameaça governar as províncias em que a Renamo reclama vitória.

29 de março de 2015: Armando Guebuza deixa a liderança da Frelimo. Sucede-lhe Filipe Nyusi, que já governava o país.

Filipe Nyusi
Filipe Nyusi Horacio Villalobos

5 de abril 2016: O Wall Street Journal noticia que há um empréstimo não divulgado de 622 milhões de dólares que foi proposto pelo Credit Suisse e VTB em 2013. Era o início do caso do escândalo das dívidas ocultas, contraídas entre 2013 a 2014, pelo Governo moçambicano, sem o conhecimento do parlamento e dos parceiros financeiros, envolvendo mais de dois mil milhões de dólares.

15 de abril de 2016: O Fundo Monetário Internacional (FMI) e, mais tarde, o Banco Mundial cortam apoio a Moçambique, após descobrir-se o escândalo das dívidas ocultas. Outros parceiros internacionais do país seguem o mesmo caminho.

26 de julho de 2016: O parlamento moçambicano aprova a criação de comissão de inquérito para averiguar sobre a dívida pública.

5 de outubro de 2017: Mocímboa da Praia, Cabo Delgado, norte de Moçambique, sofre os primeiros ataques terroristas contra posições policiais, incursões reclamadas por um grupo com supostas ligações ao Estado Islâmico, causando dezenas de feridos, no primeiro dia.

3 de maio de 2018: O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, morre na Serra da Gorongosa, vítima de doença. Ossufo Momade assume o posto da presidência da Renamo de forma interina.

29 de dezembro de 2018: O antigo ministro das Finanças Manuel Chang é preso no Aeroporto Internacional de Joanesburgo, na África do Sul. Cinco anos depois, Chang é extraditado para os Estados Unidos de América (EUA), contra vontade das autoridades moçambicanas.

17 de janeiro de 2019: Ossufo Momade é eleito presidente da Renamo num congresso interno do partido fortemente contestado.

1 de agosto de 2019: o Governo da Frelimo e a Renamo assinam um novo acordo no Parque Nacional de Gorongosa: o Acordo de Cessação Definitiva de Hostilidades Militares.

6 de agosto de 2019: Filipe Nyusi e Ossufo Momade assinam o Acordo de Maputo para a Paz e Reconciliação Nacional, o terceiro entre a Frelimo e a Renamo e que se iniciou com o processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) de 5.221 ex-guerrilheiros do partido da oposição.

15 de janeiro de 2020: Filipe Nyusi é reeleito Presidente da República de Moçambique.

11 agosto de 2020: Grupos rebeldes em Cabo Delgado tomam a vila de Mocímboa da Praia e os confrontos com as Forças de Defesa e Segurança deixaram um número até hoje desconhecido de mortos, incluindo elementos da força marítima, além de várias infraestruturas destruídas. O grupo ficaria instalado em Mocímboa por quase um ano.

9 de novembro de 2020: Procuradoria-Geral de Moçambique (PGR) reconhece, pela primeira vez, acusações contra Manuel Chang, ex-ministro das Finanças, no caso das dívidas ocultas.

10 de março de 2021: O Tribunal Supremo moçambicano decide libertar os 11 arguidos dos 19 envolvidos nas dívidas ocultas mediante pagamento de caução e Termo de Identidade e Residência.

24 de Março de 2021: Ataque terrorista a Palma, Cabo Delgado, região norte, levou a multinacional TotalEnergies a suspender o megaprojeto de exploração de gás natural. Durante a incursão terrorista, um número não especificado de estrangeiros ligados aos projetos de gás são mortos e o ataque chama atenção internacional para o drama da violência na província, com diversas cadeias televisivas mundiais a visitarem Cabo Delgado.

23 de agosto de 2021: Iniciou-se o julgamento dos arguidos envolvidos no caso das dívidas ocultas. Aberto à imprensa, o evento termina com a pena de prisão de 10 a 12 anos de vários envolvidos, incluindo Ndambi Guebuza, filho do antigo Presidente Armando Guebuza.

20 de outubro de 2021: Escritora moçambicana Paulina Chiziane vence 33.ª edição do Prémio Camões 2021, que recebeu em 2023.

9 de março de 2023: O rapper e ativista moçambicano Edson da Luz, conhecido pelo nome artístico de Azagaia, morre aos 38 anos.

18 de março de 2023: A Polícia da República de Moçambique (PRM) reprime marcha organizada por jovens ativistas moçambicanos para homenagear Azagaia, terminando com detidos e feridos, um episódio criticado por organizações nacionais e internacionais.

11 de outubro de 2023: Realizaram-se as eleições autárquicas em 65 municípios, mais um escrutínio cujos resultados foram fortemente contestados pela oposição e sociedade civil.

15 de outubro de 2023: Renamo convoca manifestações contra resultados das eleições autárquicas. O destaque vai para cidade de Maputo, onde o candidato da Renamo, Venâncio Mondlane, na altura ainda como membro daquele partido, lidera mais de 50 marchas pela capital, algumas das quais com registo de confrontos entre a polícia e os manifestantes.

24 de novembro de 2023: O Conselho Constitucional proclama Frelimo como vencedora das eleições autárquicas em 56 municípios.

05 de maio de 2024: Reunido em sessão extraordinária da Frelimo, o Comité Central do partido escolhe primeiro candidato presidencial nascido após a independência: Daniel Chapo.

Maio de 2024: Renamo realiza Congresso Nacional do partido para eleger novo presidente que viria a ser candidato presidencial apoiado pelo partido, num processo polémico em que Venâncio Mondlane foi impedido de concorrer.

3 de Junho de 2024: Venâncio Mondlane abandonou a Renamo e renuncia à função de deputado na Assembleia da República, anunciando sua corrida à Presidência da República de forma independente.

9 de outubro de 2024: Realizam-se eleições gerais em todo o país, com a proclamação, mais tarde, da vitória de Daniel Chapo e da Frelimo.

18 de outubro de 2024: Aliados de Mondlane, Paulo Guambe e Elvino Dias, conhecido em Moçambique como "advogado do povo", pelas causas sociais e apoio que prestava em vários processos, sobretudo dos mais desfavorecidos, são mortos numa emboscada, conforme confirmado pela polícia, que até hoje não apresentou explicações ou suspeitos do crime, associado desde então a motivações políticas.

21 de outubro de 2024: Começam manifestações pós-eleitorais, em repudio, primeiro, a morte dos aliados de Mondlane e também contra os resultados eleitorais, naquela que ficaria conhecida como a pior contestação aos resultados eleitorais que o país conheceu. Cerca de 400 pessoas morreram em resultado de confrontos com a polícia em quase cinco meses.

15 de janeiro de 2025: Daniel Chapo toma posse como o quinto Presidente de Moçambique, o primeiro chefe de Estado nascido após a independência.

5 março de 2025: Assinatura do compromisso político para travar os protestos entre o Daniel Chapo e os principais partidos políticos moçambicanos.

23 de março de 2025: Chapo e Mondlane reúnem-se pela primeira vez, depois de meses de violência.