Portugal está cansado… mesmo muito cansado. Cansado da instabilidade, da judicialização da política, da paralisia decisória, da incapacidade de gerar um horizonte comum a todos os portugueses. As eleições sucedem-se sem que surja um verdadeiro governo capaz de governar. O que está em causa já não é quem vence, mas se alguém conseguirá mesmo liderar com eficácia. A resposta tem sido, infelizmente, negativa.
O tempo útil de governação é hoje consumido entre comissões de inquérito, suspeições públicas e fugas seletivas de informação. As políticas não chegam a passar de embrionárias. É no bolso dos portugueses e nas estatísticas económicas que se sentem as verdadeiras consequências deste quadro. Estagnação da produtividade. Défice crónico de investimento. Perda de talento jovem. A vida média dos portugueses degrada-se porque o país não avança.
Num contexto parlamentar cada vez mais fragmentado, aceitar todos os partidos políticos não é meramente uma cedência ideológica. É uma necessidade democrática. A exclusão não resolve os bloqueios. A pluralidade, quando canalizada para reformas estruturais, pode ser um ativo. Mas todos, sem exceção, têm de assumir responsabilidades e fazer cedências. A democracia parlamentar exige pontes.
Portugal precisa de choques. Não de choques simbólicos, mas reais. Um choque de produtividade que envolva escolas, empresas e inovação. Um choque fiscal que descomplique, que premie quem trabalha e investe. Um choque na Administração Pública que a torne célere, digital e útil. Um choque na Justiça que a torne célere, previsível e funcional; e, já agora, que devolva os julgamentos aos tribunais, não aos noticiários.
A qualidade da democracia mede-se pela sua capacidade de gerar bem-estar. Um Parlamento que exclui e não se entende é um Parlamento que bloqueia. Um Governo que não governa é um custo. E um país que não reforma está condenado à irrelevância.
Mais do que um novo ciclo político, Portugal precisa de um novo compromisso cívico. A Assembleia da República deve fazer da diversidade política uma alavanca para o progresso e não uma desculpa para a inação. A alternativa a este imperativo é continuar a perder tempo, investimento e esperança. E isso, os portugueses já não aguentam.
Professor Associado e Coordenador da área de Economia e Gestão da Universidade Europeia