As expectativas eram grandes. No sábado passado, Portugal enfrentava, em casa, a Irlanda, atualmente a terceira seleção no ranking mundial de rugby.
Sabíamos que seria um jogo muito difícil. Mas depois de um Mundial histórico, a seleção nacional vinha a inspirar-nos com exibições que nos enchiam de orgulho. Havia esperança. Talvez até um pequeno milagre, algo que, em Portugal, nunca se pode descartar completamente, sobretudo quando 15 jogadores irlandeses estão neste momento nos Lions (seleção conjunta com País de Gales, Irlanda, Escócia e Inglaterra).
O dia estava bonito e o Jamor preparava-se para receber um jogo especial. No entanto, os bilhetes foram colocados a preços demasiado altos para a realidade nacional e, em vez de uma enchente, vimos um estádio quase vazio. Os adeptos irlandeses eram, surpreendentemente, maioria. Um duro contraste num momento em que o rugby nacional tanto precisa de mais e melhor.
O jogo começou, e logo nos primeiros minutos percebemos que seria desequilibrado. Faltava alma. Faltava apoio. Chegámos ao intervalo com um pesado 54-0 para a Irlanda. Um silêncio estranho tomava conta do estádio, quebrado a certa altura por um adepto escocês que gritou bem alto: “Get your shit together, Portugal!”
Na segunda parte, os portugueses e irlandeses começaram a sair do estádio. O ambiente era desolador. Nem para os jogadores, nem para os adeptos, nem para os parceiros que tanto têm apoiado esta equipa, este jogo trouxe algo de positivo.
Portugal ainda marcou um ensaio com conversão, mas foi pouco. Apesar dos esforços individuais e criatividade de jogadores como Nicolas Martins, Nuno Sousa Guedes e Simão Bento, o resultado final foi duro: 7-106. A maior derrota de sempre da seleção.
Sim, é apenas um jogo. Mas em 80 minutos, deitou-se por terra muito do que se construiu ao longo dos últimos anos. O próprio selecionador, Simon Mannix, foi claro ao afirmar que este resultado é consequência da falta de preparação, treino, férias e casamentos pelo meio. Mas como queremos nós ser grandes se não nos comportamos como um? Foi exatamente essa aposta em não deixar nada ao acaso, que nos deixou orgulhosos a todos no último mundial em 2025.
Foi mau. Foi triste. Chegou a ser desesperante. Mas talvez necessário. Às vezes, é preciso um wake-up call para voltar a crescer. As vezes é preciso morrer para renascer.
Agora é tempo de analisar efetivamente o que correu mal, corrigir o rumo e focar verdadeiramente nos dois anos que temos pela frente até ao Mundial de 2027 na Austrália, para o qual, pela primeira vez, estamos qualificados diretamente.
Somos descendentes de Viriato, de bravos navegadores que dividiram o mundo em dois. E é com essa força, essa raça, essa genuína forma de ser português que acredito que vamos superar esta derrota e recolocar o rugby português no lugar que merece. Que todos merecemos.
Será que todos juntos seremos capazes?
Gestor