A AD venceu as eleições, mas o Chega surge como rookie da política portuguesa, pois, em apenas seis anos, passou de 1,3% de eleitores, quando concorreu pela primeira vez, em 2019, para 22,5% nestas eleições antecipadas em 2025.
O Chega foi o grande vencedor destas eleições. É obra! Goste-se ou não. E pelo que me apercebo não vai ficar por aqui. Parece um bulldozer que leva tudo à sua frente e nada o para. O interesse pelo Chega não é efémero e é motivado pela frustração de muitos portugueses pelo presente; e nada tem que ver com a nostalgia do passado.
Dentro do impulso desta onda, há um elemento que também se refletiu nas eleições deste domingo: o voto jovem, especialmente o voto masculino. Em Portugal, o Chega tem sido a sua primeira escolha. O PS e também o PSD têm de mudar a sua forma de se relacionarem com o Chega, ou correm o risco de serem canibalizados.
Alguns elementos contribuem para a ascensão do Chega, como um sentimento generalizado contra o sistema, combinado com fatores económicos. O Chega aborda problemas socioeconómicos como a subsidiodependência, a imigração, a segurança, a corrupção, capitalizando o fracasso dos partidos tradicionais em resolvê-los. A sua credibilidade está a crescer entre o eleitorado e cada vez mais pessoas acham aceitável votar nele, nem que seja de forma envergonhada.
O PSD e o PS não conseguem flirtar com os portugueses como antigamente. O discurso de André Ventura vai ao encontro dos seus anseios e no que pensam da política atual.
É preciso fazer autocrítica. As eleições portuguesas provocaram um terramoto político. A AD teve uma votação que lhe dá algum conforto, mas não é suficiente. E os escândalos envolvendo alguns deputados neste mandato, surpreendentemente, não erodiram a sua votação. A retórica migratória levada ao extremo funcionou.
É notável a capacidade do Chega de captar votos em qualquer área. O resultado obriga à reflexão dos partidos do sistema, que perderam o contacto com a maioria dos portugueses, que não confiam neles para governar, nem para lhes dar o seu voto de protesto. Entre as suas falhas estão a incapacidade de resolver problemas que se arrastam há anos — como a escassez de casas e assistência médica — e a sua rejeição ao debate sobre a gestão de imigração.
O Chega está a tornar-se um caso sério. Quem sempre procurou menorizar e colocar uma barreira tendo como fito ignorar o Chega, convém começar a preparar-se para o que aí vem. O Chega é um partido do quadro constitucional e, portanto, faz parte dos partidos políticos. Se o Chega fosse um partido fascista, a Constituição da República não o legalizava.
O fenómeno Chega, ao não ter sido aceite com outra postura, tornou-se um caso sério de popularidade. Passando a liderar a oposição, colocando o PSD nos braços do PS, um partido em cacos, leva-me a pensar que o descontentamento e a possibilidade de novos atos de corrupção, podem levar o Chega ao poder.
Fundador do Clube dos Pensadores