No cerne da Filosofia Aristotélica reside uma verdade intemporal: “É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer”. Esta máxima encontra uma expressão notável nas Júnior Empresas, as organizações estudantis sem fins lucrativos com o propósito de promover a aprendizagem através de experiências práticas, o dito learning-by-doing. Estas organizações, compostas e geridas exclusivamente por estudantes universitários, não são apenas entidades empresariais com impacto real na economia, são verdadeiras incubadoras de talento, onde a sinergia entre a teoria e a prática toma uma forma única, preparando os estudantes para os desafios e a realidade do mundo profissional. Este artigo procura explorar como as Júnior Empresas espelham o espírito aristotélico, transformando-o numa filosofia tangível de aprendizagem prática e crescimento profissional.

Para a geração mais qualificada de sempre, a necessidade de se destacar e trazer valor diferenciador torna-se urgente. Desta forma, as competências pessoais e profissionais não são apenas fatores distintivos, mas a espinha dorsal de uma transição para o mercado de trabalho bem-sucedida. Um estudo realizado pela Comissão Europeia concluiu que o envolvimento com Júnior Empresas tem um impacto real nas prospecções profissionais dos seus membros, que não só são recrutados mais rapidamente, como são mais colocados em áreas do seu interesse e em melhores condições salariais.

A ideia de que “O prazer no trabalho aperfeiçoa a obra” reflete uma parte significativa da qualidade do trabalho desenvolvido, na medida que apesar dos serviços das Júnior Empresas serem contratualizados e remunerados, todo o trabalho dos estudantes é pro-bono, sendo a única recompensa o prazer pela aprendizagem e o desenvolvimento individual. Esta abordagem única não só reflete a natureza altruísta dos envolvidos, como demonstra como as Júnior Empresas fomentam a satisfação no mercado de trabalho e, por consequência, o sucesso dos colaboradores e das organizações.

No entanto, o impacto real dessas organizações vai muito além de dotar os seus membros de competências como a liderança, o trabalho em equipa, a resolução de problemas e a comunicação eficaz. A nível nacional, as Júnior Empresas são agentes transformadores do panorama empresarial português, através das 24 Júnior Empresas e 1100 Júnior Empresários distribuídos por 16 instituições de ensino superior, que geram uma receita cumulativa de mais de 400 mil euros. Estes números são mais que meros indicadores, são testemunhos tangíveis do impacto das Júnior Empresas através da prestação dos seus serviços e atividades.

Um exemplo notável que ilustra essa influência positiva é um projeto desenvolvido pela Católica Consulting Linked, Júnior Empresa da Católica-Lisbon School of Business and Economics, que teve como cliente um Hospital Público na Região de Lisboa. Confrontados com desafios a nível de gestão e implementação de projetos de transformação digital no hospital, o grupo de estudantes desenvolveu uma estrutura multidisciplinar focada na gestão da mudança e transformação ágil, de modo a aumentar a taxa de sucesso das iniciativas e reduzir o consumo de recursos essenciais. Este caso não só demonstra a capacidade das Júnior Empresas de resolver os problemas emergentes dos clientes, como também evidencia o impacto positivo direto que geram nas comunidades locais.

Assim, na era onde as lições do passado são a base do futuro, o pensamento aristotélico guia a ação dos membros destas organizações, que ao encararem projetos reais não só absorvem conhecimento valioso tornando-se profissionais prontos e capacitados, como também o aplicam de forma significativa e impactante; consolidando deste modo a posição das Júnior Empresas como autênticas catalisadoras da mudança.

Hugo Rolim é presidente da Católica Consulting Linked (CCL)