Mas há mais. O conceito mais puro de design para a sustentabilidade diz-nos que é preciso encontrar uma solução equilibrada dos conhecidos pilares 3P (triple bottom line): pessoas (people), planeta (planet) e lucro (profit). Imaginem que procuramos uma solução para um problema social. Se desenvolvermos um produto com materiais prejudiciais para o ambiente, então ele não é sustentável. Por outro lado, podemos criar um produto ecológico, com materiais reciclados e biodegradáveis, mas caro, e, portanto, inacessível aos destinatários. Logo, também não é sustentável.

As perguntas que faço muitas vezes são as seguintes: estarão as empresas apostadas realmente num caminho sustentável? Os nossos olhos de consumidores estão verdadeiramente abertos para detectar – e recusar – más práticas empresariais? Faço estas perguntas há quase duas décadas, desde que comecei a escrever sobre estes temas. O que observo é que não falta oportunismo por aí. Há organizações que promovem a imagem idílica de que têm preocupações sustentáveis, mas mantêm procedimentos internos que contrariam o conceito. Quando uma organização impõe más condições de trabalho aos seus colaboradores ou quando opta por procedimentos pouco ecológicos numa determinada fase do desenvolvimento do produto, lamento dizer, mas isso é só hipocrisia.

Claro que a crescente consciência ambiental dos consumidores leva a que cada vez mais empresas adoptem políticas mais sustentáveis. As multinacionais têm já essa preocupação com os produtos de grande consumo. A indústria automóvel percebeu, melhor do que outras, as exigências dos consumidores e tem apostado no desenvolvimento de motores eléctricos e na concepção de peças recicláveis.

A legislação também contribui, e bem, para a criação de produtos ecológicos. No caso da indústria automóvel, por exemplo, uma directiva comunitária obrigou, a partir de 2015, a que 85% dos componentes dos veículos fossem recicláveis. Várias marcas até se anteciparam e passaram a disponibilizar automóveis com valores superiores a 85% – e antes do tempo.

Outra ferramenta que promove a concepção de produtos sustentáveis é a certificação através de selos verdes, como o rótulo ecológico europeu (Eco-label). Este rótulo é opcional, mas tem a função de incentivar a produção e o consumo de produtos amigos do ambiente. Contudo, não sejamos ingénuos: a forma mais eficaz de o fazer seria obrigar os fabricantes a colocar nos rótulos, juntamente com a informação sobre os componentes, dados sobre o consumo de água e a pegada de carbono do produto.

Isso ajudaria e reduzir os pecados do greenwashing. E que pecados são esses? Para mim são, sobretudo, a omissão dos custos ambientais, a promoção constante de factos “ecológicos” irrelevantes associados ao produto e, claro, a mentira descarada. Mas o amor que certos consumidores têm pelas marcas (e o trabalho eficaz que os marketeers se encarregam de fazer) dão uma rasteira ao espírito analítico. Por mais que os consumidores tentem alcançar certezas inabaláveis em relação aos produtos que consomem, a análise contém sempre erros. A cegueira da paixão pelas marcas é, para muitos de nós, uma inevitabilidade – e talvez fosse importante começar por reconhecer isto.

Ao fim de pelo menos uma década a discutir-se activamente o tema da sustentabilidade das marcas e das empresas, acredito que a maioria delas ainda não sabe como comunicar com os consumidores. Faço algo ambientalmente relevante e não falo sobre isso? Ou falo à medida que vou fazendo? Ou será que me liberto falando apenas de pequenas atitudes verdes e, assim, ganho algum tempo? Eu não sei a resposta a estas perguntas. Mas de uma coisa tenho a certeza: os consumidores só ficarão esclarecidos e as empresas só alcançarão um equilíbrio entre fazer e comunicar quando a sustentabilidade estiver mais estabelecida no mundo das marcas, quando houver verdadeiros case studies, e quando as boas práticas forem recorrentes.

Termino com uma reflexão que me obriguei a fazer para escrever este artigo. Qual é o produto que mais admiro, tendo em conta o conceito de sustentabilidade? Não foi preciso pensar muito para chegar à minha resposta: a life straw (palhinha da vida), produzida pela empresa alemã Vestergaard Frandsen, que é um purificador instantâneo e portátil de água destinado a populações de países em desenvolvimento. Pesquisem aqui (https://www.vestergaard.com/) e vão perceber porquê. Num mundo capaz de albergar uma quantidade inacreditável de crueldade, algumas empresas encontram espaço para a solidariedade, para a ajuda ao próximo, em projectos de inovação absolutamente transformadores. Assistir a estes actos empresariais de coragem e de visão de futuro faz acender algo dentro de mim, enche-me de uma esperança e energia loucas.