A Semana do Aleitamento Materno celebra-se todos os anos como uma oportunidade para refletirmos sobre a importância deste gesto tão simples e, ao mesmo tempo, tão transformador. Para quem está grávida ou acabou de ser mãe, as primeiras semanas podem ser desafiantes, repletas de dúvidas e expectativas. A chegada de um filho traz consigo uma sucessão de emoções intensas: alegria, ansiedade, medo, ternura. Para muitas mulheres, o momento de amamentar surge envolto em expectativas idealizadas – um gesto simples, quase instintivo. No entanto, para grande parte das mães, a realidade pode revelar-se mais exigente do que foi imaginado. Amamentar é, de facto, muito mais do que alimentar. É oferecer ao bebé um alimento vivo e completo, que protege contra infeções, contribui para o desenvolvimento saudável e reforça a segurança emocional. Para a mãe, é também um momento de cumplicidade, de contacto pele a pele e de descoberta de uma nova identidade.
Amamentar é, acima de tudo, um ato de amor e dedicação, que deve ser livre de julgamentos e em que se deve respeitar as necessidades e escolhas individuais de cada mãe e bebé. Mas importa reconhecer que nem sempre tudo corre como foi planeado e antecipado. A descida do leite pode tardar, as dores ou fissuras podem surgir, o cansaço pode instalar-se. Perante estas dificuldades, o mais importante é saber que não está sozinha e que pedir ajuda é sinal de força, nunca de fraqueza ou falha. Há quem sinta dor, quem tenha medo de não ter leite suficiente, quem se sinta pressionada a corresponder a um padrão que vê nas redes sociais ou ouve dos familiares.
O que pode ajudar?
Antes de mais, informação clara e apoio prático. Cada mãe e cada bebé têm um ritmo próprio. Vamos partilhar recomendações que podem fazer diferença no início desta jornada:
-Preparar-se durante a gravidez: participar em sessões de preparação para o parto, conhecer sinais de fome do bebé e aprender sobre pega correta.
-Amamentar logo após o parto: o contacto pele a pele estimula a produção de leite e reforça a segurança do bebé.
- Amamentar em livre demanda: oferecer a mama sempre que o bebé mostrar sinais de fome, sem esperar horários fixos.
- Observar a pega: uma pega correta evita dores, previne fissuras e aumenta a eficácia da sucção.
- Valorizar o descanso: dormir quando o bebé dorme, manter-se hidratada e aceitar ajuda para as tarefas domésticas.
- Recorrer a apoio especializado: consultoras de lactação, grupos de apoio ou profissionais de saúde podem ajudar a resolver dificuldades que parecem intransponíveis.
Amamentar não é um teste de resistência, mas um processo construído com paciência, informação e apoio. E cada história é única: não há comparações nem padrões que sirvam a todas.
Porque amamentar é um ato de entrega, mas também de liberdade: a liberdade de escolher, de adaptar e de procurar ajuda sempre que necessário. E cada mãe merece vivê-lo com tranquilidade, confiança e respeito.
Amamentar pode não ser sempre simples, mas não precisa de ser vivido sozinha. E cada mãe merece sentir-se apoiada e respeitada nesta etapa tão transformadora.
Enfermeira especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica e Docente na Escola de Enfermagem (Porto) da Universidade Católica Portuguesa