
No seu artigo de 31 de julho, no Expresso, Daniel Oliveira adota um tom indignado e provocador para denunciar aquilo que considera ser a hipocrisia da comunidade internacional no tratamento do conflito entre Israel e Palestina. Segundo ele, se os países ocidentais realmente defendessem uma ordem mundial baseada no Direito Internacional, então deveriam aplicar contra Israel as mesmas medidas duras que aplicaram a outros regimes, como o de Vladimir Putin: sanções económicas, isolamento diplomático, julgamento por crimes de guerra, entre outras.
Oliveira, que frequentemente utiliza uma suposta ascendência judaica para atacar o único Estado judaico no mundo e a única democracia do Médio Oriente, defende no seu artigo que apenas com esse tipo de pressão será possível obrigar Israel a negociar seriamente uma paz com base em parâmetros reconhecidos pela ONU, como a retirada dos colonatos dos territórios ocupados, a partilha de Jerusalém e o regresso às fronteiras de 1967.
Para Oliveira, o facto de estas propostas serem consideradas “irrealistas” apenas demonstra que o Direito Internacional só é invocado quando serve os interesses das grandes potências — e é ignorado quando se trata de aliados estratégicos como Israel. O seu texto, portanto, não é apenas uma condenação da política israelita, mas sobretudo uma crítica ao duplo padrão moral e jurídico do Ocidente. O artigo não apresenta nenhum exemplo concreto, nem qualquer tentativa de contextualizar o conflito. Assume unicamente uma posição pró-palestiniana, num tom editorial que tem sido amplamente adotado pela imprensa portuguesa: um ataque enviesado e descontextualizado ao Estado de Israel, com a intenção de o descredibilizar e deslegitimar. Só isso explica que um artigo deste tipo seja publicado num jornal mainstream sem qualquer correção editorial.
É profundamente hipócrita exigir o corte total de relações diplomáticas e comerciais com Israel enquanto tantos países mantêm laços estreitos com regimes brutais como o Irão, a China ou a Síria. Israel, uma democracia sob ataque constante de organizações terroristas como o Hamas, é tratado como pária enquanto ditaduras genocidas continuam integradas no sistema internacional sem grandes sanções. A exigência de aplicar contra Israel sanções tão pesadas quanto as impostas à Rússia ignora por completo a diferença entre uma guerra de agressão — como a invasão da Ucrânia — e uma resposta de autodefesa contra um grupo que massacrou civis, violou mulheres e sequestrou centenas de pessoas filmando a operação de forma sádica e cruel. Mais ainda, propor o julgamento de Netanyahu e silenciar os crimes bárbaros do Hamas, incluindo o uso sistemático de escudos humanos e o lançamento deliberado de foguetes contra centros civis, é não só injusto como moralmente indefensável. O texto em causa invoca o Direito Internacional, mas aplica-o de forma enviesada e ideológica, ignorando o direito básico de qualquer Estado de se defender, consagrado no artigo 51.º da Carta da ONU. Além disso, transformar as fronteiras de 1967, a retirada total dos colonatos e a partilha de Jerusalém em “ponto de partida” para negociações não é realismo jurídico — é uma imposição política que ignora décadas de rejeição árabe a propostas de paz baseadas nesses mesmos parâmetros.
Oliveira não exige que a Turquia, membro da NATO, se retire do norte de Chipre — uma região que deixou praticamente desabitada —, mas considera realista e exequível que Israel remova um milhão de judeus das cidades e aldeias vibrantes que construiu na Judeia e Samaria desde 1967. Para ele, Israel não tem o direito de fazer reivindicações territoriais das quais a comunidade internacional discorda — mas a Tailândia pode.
Nenhum país, incluindo os mais civilizados da Europa, aceitaria ceder todos os seus interesses estratégicos antes sequer de começar a negociar. Exigir isso apenas de Israel é, novamente, aplicar um padrão duplo. O texto critica a “ordem mundial baseada no Direito Internacional”, mas é ele próprio que perverte esse direito, tratando Israel como o único Estado que não pode errar, não pode reagir e não pode existir plenamente como qualquer outro. Esta seletividade não é justiça — é perseguição disfarçada. Fala em “carnificina”, mas esquece-se quem a começou. Exige justiça, mas apenas para um dos lados. Reclama imparcialidade, mas com uma linguagem e exigências carregadas de preconceito. O texto que se pretende moralmente elevado, na realidade revela o contrário: um desprezo velado por Israel enquanto Estado soberano. E isso sim, é a verdadeira hipocrisia.