Na sessão solene do Dia do Concelho de Proença-a-Nova, realizada no dia 13 de junho, o tema “Raízes” foi o fio condutor dos discursos proferidos, num momento marcado pela valorização da identidade, da memória coletiva e da visão para o futuro. A cerimónia, que teve lugar no Auditório Municipal, ano em que este equipamento, bem como a Biblioteca Municipal comemoram 30 anos na promoção da leitura, da cultura e do conhecimento no concelho ao longo das últimas três décadas, consolidando-se como um espaço de referência para a comunidade proencense.

A cerimónia teve início com a interpretação do Hino Nacional pelo Grupo Coral de Proença-a- Nova, num momento solene que deu o tom para os discursos que se seguiram. O encerramento fez-se com a mesma emoção, com o grupo a protagonizar o Hino de Proença-a-Nova, reforçando o sentimento de pertença e orgulho coletivo.

João Lobo, presidente da Câmara Municipal, começou com uma intervenção centrada no simbolismo da palavra “raízes” como âncora emocional e cultural da comunidade proencense. Recordou o esforço contínuo dos que, no passado, decidiram fazer desta terra o seu lar, reconhecendo nas suas ações as bases sobre as quais o presente se ergue. Sublinhou, contudo, que as raízes não podem ser apenas sinónimo de passado. “Raízes que não crescem, que não lançam novos rebentos, estão condenadas à secura”, afirmou, defendendo a importância de transformar essas raízes em frutos: na atração de novos habitantes, na criação de oportunidades e na capacidade de adaptação a um mundo em mudança. A mensagem foi clara: honrar a origem, sem nunca perder a ambição de crescer.

António Paulo dos Santos, deputado independente da Assembleia Municipal, reforçou a ideia de que a força de uma comunidade está na sua capacidade de renovação e de inclusão. Referindo-se ao conceito de “raízes” como algo vivo, dinâmico e plural, defendeu que “só com raízes bem cuidadas é possível construir um futuro comum que respeite a diversidade e o percurso de todos os que aqui vivem, trabalham e escolhem Proença-a-Nova para fazer crescer os seus sonhos.” A sua intervenção trouxe também um olhar crítico e construtivo sobre os desafios atuais e a necessidade de ação política responsável, comprometida com o bem-estar coletivo. Num momento em que as palavras “migração”, “diferença” e “desenvolvimento” fazem parte do debate nacional, Proença-a-Nova afirmou-se como um território onde as raízes se honram, mas também se reinventam.

Por sua vez, Daniela José, representante da bancada do PSD, trouxe uma visão poética, mas profundamente concreta da ligação entre o homem e a terra. “As raízes de Proença-a-Nova são duplas: fincam-se profundamente na terra, mas também se entrelaçam nas histórias de vida das suas famílias.” Ao longo da sua intervenção, a deputada da assembleia municipal recordou a sabedoria agrícola, os rituais comunitários como a apanha da azeitona, e a importância de transformar as memórias em motivação para inovar. Proença-a-Nova deve, segundo as suas palavras, afirmar-se como território de oportunidade para “corajosos crentes” — jovens que, inspirados pelo legado dos antepassados, queiram investir em agricultura biológica, turismo sustentável, produtos locais e novas formas de viver com equilíbrio entre modernidade e tradição. “Em Proença-a-Nova, cuidar das raízes é cuidar de tudo o que importa: da terra, da família, da própria vida. Por isso, somos diferentes. Por isso, somos Proença-a-Nova”, concluiu.

Gabriel Batista, representante da bancada do PS, natural da aldeia do Estevês, que partilhou a sua vivência pessoal com orgulho e autenticidade. Falou sobre o risco atual de esbatimento do sentimento de pertença e da vergonha que muitos sentem pelas suas origens humildes. “Eu sou do Estevês, uma aldeia do concelho de Proença-a-Nova”, afirmou com firmeza, lembrando que nunca deixou de assumir com orgulho a sua terra, mesmo quando outros preferem responder apenas com o nome do distrito. O deputado destacou a importância de receber de braços abertos todos os que escolhem hoje criar raízes em Proença, sejam de outras regiões do país ou de outras nacionalidades, desafiando a comunidade a transformar o acolhimento em oportunidade. “A novidade pode assustar, mas é ela que nos faz avançar”, sublinhou.

No seu discurso, houve também espaço para uma reflexão crítica, mas construtiva, sobre a tendência para desvalorizar o que é local. Deu como exemplo a oferta cultural e os serviços de saúde no concelho, valorizando o esforço do município para garantir qualidade de vida aos seus habitantes. Um episódio pessoal, vivido num hospital em Lisboa, serviu de comparação direta para elogiar o empenho local em assegurar cuidados médicos dignos — mesmo com recursos limitados. “No final do dia, eu não preciso saber para onde vou, só preciso saber de onde vim”, concluiu o deputado, ecoando o sentimento que atravessou toda a cerimónia.

Todos os discursos convergiram num apelo à responsabilidade coletiva. Cuidar das raízes implica não apenas recordar, mas também proteger, nutrir e transformar. Em Proença-a-Nova, celebrar as raízes não é ficar preso ao passado — é usá-lo como alicerce para construir o futuro.

A sessão solene ficou ainda marcada pela atribuição da medalha de mérito municipal a três coletividades – Grupo de Danças e Cantares de Montes da Senhora, ao Grupo de Danças e Cantares Populares de Sobreira Formosa e ao Grupo Coral de Proença-a-Nova, ao artista Carlos Farinha, ao músico Mário Cardoso e ao proencense Eurico Condeixa pela sua pela dedicação à comunidade, à cultura e a ligação às nossas raízes.