A CEO da CBS News, Wendy McMahon anunciou, ontem, dia 19 de maio, a sua saída do cargo de CEO da CBS News, marcando o mais recente capítulo de um conflito crescente entre a divisão de notícias da empresa e Shari Redstone, acionista controladora da Paramount Global.

A decisão provem de uma série de tensões entre McMahon e a liderança do conglomerado, especialmente em relação à supervisão editorial e questões comerciais.

De acordo com fontes próximas ao assunto, o co-CEO da Paramount Global, George Cheeks, conversou com McMahon no último sábado, solicitando sua demissão, McMahon aceitou a proposta, e no domingo, o conselho de administração da Paramount Global foi informado da decisão.

Até o momento nenhuma das partes envolvidas comentou oficialmente sobre o ocorrido.

Em sua carta de demissão, McMahon expressou os desafios enfrentados nos últimos meses, destacando que as diferenças com a direção da empresa tornaram-se irreconciliáveis.

“Ficou claro que a empresa e eu não concordamos sobre o caminho a seguir. Chegou o momento de eu seguir em frente e de esta organização avançar com uma nova liderança”, escreveu McMahon.

Nos últimos meses, a Paramount Global intensificou a pressão sobre McMahon e o executivo-chefe da divisão de notícias, George Cheeks, exigindo mais controle sobre os detalhes da programação do “60 Minutes”, um dos carros-chefes da CBS.

Essa mudança no controle editorial foi vista como uma violação da independência jornalística do programa, algo que culminou na demissão do veterano produtor-executivo Bill Owens em abril, Owens alegou que a supervisão crescente de sua equipe editorial pela Paramount comprometeu sua liberdade criativa.

Scott Pelley, correspondente do “60 Minutes”, abordou as mudanças em uma edição do programa, destacando que, embora nenhuma história tenha sido bloqueada, a pressão externa fez com que Owens perdesse a independência necessária para o jornalismo sério.

“A Paramount começou a supervisionar nosso conteúdo de novas maneiras. Nenhuma das nossas histórias foi bloqueada, mas Bill sentiu que perdeu a independência que o jornalismo honesto exige”, afirmou Pelley.

A saída de Owens foi seguida por um aumento das tensões internas, com McMahon lutando para garantir a exibição de certos episódios do programa, em meio a isso, a CBS News transmitiu o último episódio do “60 Minutes” da temporada no domingo, com novos episódios previstos apenas para setembro.

Além das disputas editoriais, McMahon também enfrentou desafios em sua relação com Shari Redstone, que expressou críticas tanto sobre a cobertura jornalística da CBS quanto sobre a performance comercial da empresa.

Um dos pontos de discórdia foi a forma como a CBS abordou a cobertura do conflito israelo-palestiniano, especialmente após uma entrevista com o autor Ta-Nehisi Coates, conduzida pelo apresentador Tony Dokoupil.

Redstone publicamente discordou da decisão de McMahon de repreender Dokoupil por supostamente violar os padrões editoriais ao pressionar Coates sobre a perspectiva israelense no conflito.

Em um evento público em outubro, Redstone declarou que a CBS cometeu um “grande erro” ao criticar o trabalho de Dokoupil, afirmando que ele fez “um ótimo trabalho” na entrevista.

O ambiente turbulento ocorre em um momento em que a Paramount Global busca aprovação do governo dos EUA para uma fusão com a Skydance Media, liderada por David Ellison.

A fusão, que envolveria um pagamento de mais de US$ 1,5 bilhão a Redstone pela sua participação controladora, está sendo adiada pela Comissão Federal de Comunicações (FCC).

Um dos principais obstáculos para a aprovação envolve a supervisão do conteúdo do “60 Minutes” e a questão das políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), que a Paramount anunciou que pretende encerrar.

A crescente influência do governo de Donald Trump, sobre as práticas editoriais e a pressão da FCC para que as empresas de mídia restrinjam suas iniciativas de DEI, tem gerado desconforto dentro da Paramount.

A decisão de McMahon de encerrar algumas dessas políticas em fevereiro, em resposta a uma ordem executiva do presidente Donald Trump, foi vista como um passo para alinhar a empresa com as expectativas governamentais.

A saída de Wendy McMahon da CBS News reflete uma disputa em curso entre os interesses empresariais de Shari Redstone e a independência editorial de uma das principais emissoras de notícias dos EUA.