
Portugal prepara-se para regressar à produção de munições, com a instalação de uma nova fábrica em Alcochete que poderá produzir até 50 milhões de projéteis por ano, relançando assim a indústria militar nacional décadas depois do encerramento da histórica Fábrica de Braço de Prata, em Lisboa.
Segundo avança o Jornal de Notícias, o projeto é liderado pela idD Portugal Defence, holding estatal da Defesa, que prevê um investimento total de 40 milhões de euros, com o Estado a assumir entre 35% e 60% do financiamento. A proposta será oficialmente apresentada ao Governo nos próximos meses e inclui já o apoio técnico de um parceiro estrangeiro.
A nova unidade fabril ficará instalada junto às atuais infraestruturas de desmilitarização de armamento obsoleto da idD em Alcochete, e prevê a criação de 70 novos postos de trabalho qualificados. O foco principal da produção será em munições de calibres 5,56 mm e 7,62 mm, os mais utilizados pelas Forças Armadas portuguesas e pelas forças da NATO, respondendo à forte escassez mundial de ‘stocks’ devido a conflitos armados e aumento da procura internacional.
A aposta estratégica na retoma da capacidade produtiva nacional insere-se num contexto de reforço do investimento na Defesa, onde o Governo sinaliza a necessidade de modernização das Forças Armadas e de recuperar autonomia industrial neste setor estratégico. A produção nacional permitirá também aumentar as exportações, tornando Portugal novamente competitivo num mercado dominado por grandes potências militares.
Atualmente, Portugal já desmilitariza cerca de 14 toneladas anuais de munições fora de validade, sendo que a nova aposta inclui também a internacionalização deste serviço, ampliando o seu raio de ação para fora do território nacional.
O projeto é visto como um marco na reconstrução da indústria de Defesa portuguesa, adormecida desde o encerramento das antigas unidades de fabrico no final do século passado, e poderá representar um salto significativo na soberania nacional em termos de equipamento militar.