Caras e caros Eborenses,

É a vocês que me dirijo hoje. Estamos em plena campanha eleitoral, e como já sabemos, nestas alturas tudo parece simples: tudo o que se fez está mal, e tudo o que não se fez é imperdoável. Mas a palavra tem peso, e exige responsabilidade.

Não sou natural de Évora. Não voto em Évora. Mas vivo nesta cidade, cresci com ela e por ela me deixei moldar. A minha crítica é sempre positiva, construtiva e apaixonada. Quero o melhor para Évora e, por consequência, para Portugal. Acredito no poder do voto, e acredito que é com pessoas sérias, com projetos reais e com visão de futuro que podemos transformar a política local. Governar uma cidade é das tarefas mais gratificantes da política, porque se vive lado a lado com os resultados e com as pessoas.

Infelizmente, o Alentejo ocupa um terço do território nacional, mas tem apenas oito deputados no Parlamento. O desequilíbrio é gritante. Por isso, o poder autárquico torna-se essencial, urgente e precisa ser exercido com firmeza para contrariar o esquecimento sistemático a que o Alentejo tem sido votado pelo poder central.

É preciso recordar a história sem medo. O passado não nos assombra; ensina-nos. E é com ele que construímos o presente e semeamos o futuro.

Mas voltemos ao tema desta crónica. Sete candidatos. Sete projetos. Sete caminhos possíveis para a cidade-museu. Não me cabe a mim traçar-lhes o perfil essa decisão é vossa, eborenses.

Nas últimas eleições, o povo falou, e falou com clareza: CDU, PS, PSD/CDS e NC/RIR dividiram os lugares da vereação. A Assembleia Municipal ficou com o Partido Socialista. Foi um espelho da democracia e da divisão de opinião.

Mas não há como negar: Évora estagnou. Parou no tempo. Deixou de respirar. Vive num estado de adormecimento crónico a que podemos chamar, sem rodeios, de declínio.

Évora precisa urgentemente de uma nova leitura: uma leitura de visão, de estratégia, de coragem, de entusiasmo. E, acima de tudo, de amor pela cidade — sem esquecer o mais importante: as pessoas. Só assim a cultura, a saúde, o desporto, a habitação, a indústria e a população poderão florescer.

Há falhas graves em áreas essenciais. E não, ninguém espera que se resolvam em quatro anos. Mas é essencial começar e fazê-lo com coerência, seriedade e dedicação. Eis os pontos-âncora que, a meu ver, devem guiar a ação de quem assumir os destinos da cidade:

1. Capital Europeia da Cultura 2027

Este deveria ser o grande projeto mobilizador da década. Mas o atraso é preocupante. Outras cidades com este título transformaram-se, ganharam vida, infraestruturas, dinamismo. E Évora? Ainda nada. Não podemos permitir que este projeto se transforme num fracasso de dimensão nacional.

2. Educação

Acredito profundamente na educação como motor da sociedade. A Universidade de Évora, a segunda mais antiga do país, envolve mais de 12 mil pessoas uma riqueza humana e intelectual subaproveitada. A cidade precisa de integrar os estudantes, não apenas tolerá-los. Reduzir horários de bares ou contestar tradições como a Queima das Fitas mostra uma mentalidade que afasta, em vez de acolher. A Universidade é um ativo, não um problema.

3. Emprego, Fixação de Jovens e Industrialização

Évora precisa de crescer. Precisa de fixar os seus jovens e atrair população ativa. É preciso criar condições para que quem se forma aqui, fique aqui. E que quem aqui vive, possa prosperar.

4. Saúde

Somos uma das regiões mais envelhecidas do país. O novo Hospital Central do Alentejo é vital. Mas de que serve um hospital moderno sem profissionais? É necessário criar medidas eficazes de atração e fixação de médicos, enfermeiros e outros técnicos.

5. Mobilidade e Transportes

A cidade precisa de um plano de mobilidade moderno e funcional. Melhorar o transporte público, criar ciclovias seguras, resolver o estacionamento no centro histórico e investir em transportes sustentáveis são urgências. Sem movimento, uma cidade perde vida.

6. Habitação e Reabilitação Urbana

O centro histórico, apesar de belo, está a perder vida. É necessário reabilitar o património, garantir habitação acessível, atrair famílias e jovens, e revitalizar zonas abandonadas. A cidade precisa de pessoas e de casas com alma.

7. Sustentabilidade

O futuro depende da nossa relação com o ambiente. É fundamental investir em zonas verdes, gestão eficiente da água, energias renováveis e práticas ecológicas.

8. Turismo Sustentável

O turismo deve ser motor económico, mas nunca à custa da identidade local. É preciso diversificar a oferta, valorizar o comércio tradicional, apoiar produtos locais e envolver os residentes. O turista que chega deve encontrar uma cidade viva não um postal parado no tempo.

9. Juventude e Participação Cívica

É urgente ouvir os jovens. Criar estruturas de participação, dar-lhes voz, espaço e responsabilidade. Incentivar a criação cultural, o voluntariado, o empreendedorismo. A cidade só tem futuro se eles tiverem espaço no presente.

10. Inovação e Tecnologia

Transformar Évora numa cidade inteligente não é ficção, é necessidade. Apostar na ligação entre Universidade, empresas e município, atrair inovação e criar polos de startups pode ser o salto que falta.

11. Cultura Descentralizada

A cultura não pode viver apenas entre muralhas. É preciso descentralizá-la, levá-la aos bairros e freguesias. Apoiar criadores, associações e fazer da cidade um palco acessível a todos.

12. Desporto e Vida Ativa

O desporto é muito mais do que competição é saúde, inclusão e formação de valores. Évora precisa de investir fortemente em infraestruturas desportivas modernas e acessíveis. É urgente recuperar e valorizar os espaços existentes, apoiar os clubes locais, e criar condições para a prática de desporto em todas as idades. É também necessário pensar o desporto como um instrumento de coesão social e combate ao isolamento, promovendo hábitos de vida saudáveis desde a infância até à terceira idade. A cidade merece uma estratégia desportiva que una, que motive e que inspire.

Caras e caros eborenses,

Sei que poderia escrever muito mais, mas também sei que provavelmente nem vão ler esta crónica porque é de uma jovem que nem sequer é de Évora e onde o preconceito ainda é latente, mas lembrem-se no dia que esse pensamento mudar, Évora e o país também terá mudado.

A cidade tem escolhas a fazer. Vocês têm escolhas a fazer. Que não se vote por impulso, por desilusão ou por hábito. Que se vote com consciência, com sentido de missão, e com esperança.

Até à próxima crónica onde prometo falar do passado. Sim, porque só quem conhece a sua história, pode verdadeiramente escrever o futuro.

Com espírito crítico, mas com o coração cheio,
Uma cidadã por Évora.