
Setúbal despediu-se de uma das suas figuras mais carismáticas. Jacinto Tadeu, conhecido como “Jacinto das Bicicletas”, faleceu a 9 de junho, deixando um legado único na arte popular e no coração da cidade. Durante mais de três décadas, Jacinto dedicou-se à criação artesanal de bicicletas em miniatura, que vendia a partir da sua discreta, mas icónica banca improvisada na janela manuelina da Igreja de S. Julião, em plena Praça de Bocage.
Natural de Silvares, freguesia do concelho da Fundão, Jacinto emigrou ainda jovem para França, onde trabalhou na área da hotelaria. Foi apenas depois do regresso, já em 1974, que se fixou em Setúbal, cidade onde encontrou o seu lar definitivo. Trabalhou no histórico café “A Brasileira”, no centro da cidade, mas foi no artesanato que encontraria a sua verdadeira vocação.
A arte de Jacinto era singular: com um trabalho minucioso e um talento manual notável, construiu mais de 30 mil bicicletas em miniatura, cada uma feita com rigor, criatividade e um cunho pessoal que encantava quem por ali passava. Os seus modelos, muitos deles personalizados, foram levados por turistas e colecionadores para os quatro cantos do mundo, tornando o seu nome conhecido muito para além de Setúbal.
Em agosto de 2016, problemas de saúde obrigaram-no a abandonar a atividade. Ainda assim, a imagem de Jacinto na sua janela, de chapéu e sorriso discreto, é recordada com carinho por várias gerações de setubalenses e visitantes da cidade.
A sua morte representa não só o desaparecimento de um artesão de exceção, mas também o fim de uma era em que o centro histórico da cidade era palco de encontros espontâneos com personagens que faziam parte da identidade local. Jacinto Tadeu deixa um legado de simplicidade, arte e dedicação à sua cidade de adoção.