
D. Virgínia Rosa Teixeira, conhecida como Madame Brouillard, faleceu, em Lisboa, no dia 4 de setembro de 1925, aos 73 anos de idade, vítima de aortite provocada por doença arterial generalizada. Foi sepultada no cemitério de S. Dinis, onde tem o seu mausoléu.
Como Madame Brouillard, foi uma destacada benemérita da cidade e de cidadãos vila-realenses. Sem descendência direta, ainda que tivesse dois irmãos – Margarida Teixeira e Luís Teixeira -, manifestou desejo de fazer a Santa Casa da Misericórdia de Vila Real, como sua herdeira universal, mas não esqueceu diversas instituições de Vila Real – União Artística Vila-Realense, Asilo da Primeira Infância Desvalida, Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Salvação Pública de Vila Real, Asilo dos Velhinhos de Vila Real, assim como à Enfermaria de Santa Bárbara do Hospital de São José, em Lisboa.
Virgínia Rosa Teixeira nasceu em Vila Nova, freguesia de Folhadela, em 9 de novembro de 1852, filha de Luciano José Teixeira e Maria Teixeira. Era neta paterna de Domingos Domingos e de Maria Joaquina Emília, naturais de Vila Nova, e materna de Inácio Teixeira e Mariana dos Santos, da freguesia de S. João de Arroios.
Foi casada com uma personalidade espanhola, como dizia, sem, contudo, revelar a sua identidade. Divorciou-se. Terá contraído matrimónio em segundas núpcias com Albino David Martins, comerciante em Lisboa (Villarealense, 1 de setembro de 1910). Após a sua morte, foi trasladada para Vila Real e jaz no seu mausoléu do cemitério de S. Dinis.
D. Virgínia Rosa Teixeira era nos anos oitenta do século XIX uma mulher no esplendor da sua beleza. “A regularidade dos traços que lhe formavam fronte bondosa, verdadeiro espelho da alma, eram a manifesta prova de que ali estava um espírito superior” (O Villarealense, 07.07.1910). Mostrava um porte majestoso, correção no trajar, elegância natural, atraia pela afabilidade, seduzia pela gentileza e assombrava pelo seu saber. Era uma pessoa de rara inteligência. Podia manter com as suas clientes uma conversa de mais de uma hora, falando-lhe do passado, e nunca conduzia a conversa de forma a deixar na consulente uma impressão de mentira ou falsa ciência. Muitos dos que a consultavam falavam dela com admiração. Assim o dizia a imprensa da capital.
De onde lhe vem o nome Brouillard? Em entrevista à Illustração Trasmontana que O Villarealense de 5 de janeiro de 1911 reproduziu, quando lhe foi perguntado o porquê deste nome, disse perentoriamente: “Chamo-me Josephine Brouiillard.” Não considerou ser necessário explicar por que razão o usava. Ao mesmo tempo, a fim de evitar dúbias interpretações ou extrapolações, preferiu reforçar a sua origem: “E não faço segredo de que sou uma villarealense. Sou de Villa Real, sim, mas que interessa aos meus clientes saber d’onde sou? O que elles me perguntam é o mystério das suas vidas e não o da minha vida, que é um poema de melancolia e de saudade.” Falar de si, não interessava ao público. “Casei com uma alta personalidade hespanhola que me levou para Hespanha. Meu marido era uma grande figura. Quem? Não importa.”
Exerceu, com sucesso, a profissão de quiromante, na Rua Nova do Carmo, 43, em Lisboa. Trabalhava desde as 8 horas da manhã à meia-noite. Sempre com muita clientela. Depois desta hora fazia as suas experiências e estudos. Ganhou fama de ter adivinhado alguns acontecimentos importantes. A ela acorriam muitas personalidades influentes da política e da finança lisboeta, entre outros. Prestou os seus serviços quer à polícia russa, quer à inglesa em muitos crimes. O Século refere que, em 1906, Madame Brouillard declarou 10.400 consultas. Angariou fortuna, distribuindo parte dela em Vila Real. Aqui construiu o Palacete das Virtudes, criou a Escola Madame Brouillard – Escola da Raposeira-, contribuiu para a urbanização do arruamento que tem hoje o seu nome (deliberação camarária, desde 18 de outubro de 1929) – da rua Visconde de Carnaxide à ribeira de Tourinhas (então chamada estrada de Folhadela).
Vila Real recorda-a como uma das suas figuras solidárias mais relevantes, sentindo-se, ainda hoje, a sua benemerência através da Santa Casa de Vila Real.