Num discurso que ecoou nos bastidores da política nacional, Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda, lançou uma dura acusação ao atual executivo liderado por Luís Montenegro. Segundo a dirigente, o governo vive noutro mundo, pautando as suas decisões como um promotor imobiliário e dirigindo a política habitacional para favorecer uma elite em detrimento dos cidadãos comuns. Durante um almoço de apresentação da candidatura da ex-eurodeputada Anabela Rodrigues à presidência da Câmara da Amadora, a crítica foi clara: o governo olha para o país através da sua própria experiência e interesses, privilegiando o negócio da construção e os lucros no setor imobiliário, sem oferecer respostas eficazes à população.

A coordenadora sublinhou que, enquanto o governo defende a construção em solos rústicos e a utilização de mão-de-obra com poucos direitos, o problema real reside na inacessibilidade à habitação, fato que posiciona Portugal entre os países da OCDE onde adquirir uma casa é um dos maiores desafios. “Governa para uma elite e não para a maioria”, afirmou, destacando que o foco nos lucros e nos interesses de grandes investidores é incompatível com as necessidades da população.

Além disso, Mortágua criticou a postura assumida por Luís Montenegro na recente Cimeira Luso-Brasileira em Brasília, onde se defendeu a necessidade de imigrantes para a construção, contrastando com medidas anteriores que dificultavam a regularização dos imigrantes em Portugal. Segundo a dirigente, a escolha dos imigrantes com base na língua e no interesse económico evidencia um segundo conflito de interesses que agrava a crise habitacional.

A acusação central da coordenadora evidência uma visão de um governo que, imerso no mundo dos negócios e dos privilégios, ignora as reais necessidades da sociedade. O alerta de Mariana Mortágua é claro: um governo que se restringe à sua própria visão e interesses não consegue trazer soluções para os problemas do país, contribuindo para uma divisão que favorece somente uma minoria.