O almirante na reserva Henrique Gouveia e Melo apresenta esta quarta-feira, às 19h00, na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa, a sua candidatura oficial à Presidência da República, marcando claramente a entrada na corrida a Belém para as eleições de janeiro de 2026.

A formalização surge numa altura de forte movimentação no xadrez político nacional, já que poucas horas depois o Conselho Nacional do PSD reúne-se para votar o apoio à candidatura de Luís Marques Mendes. O antigo líder do partido classificou recentemente a candidatura de Gouveia e Melo como “um risco enorme” e “um perigo para a democracia”, em entrevista à Antena 1.

O almirante confirmou a intenção de concorrer a Belém a 14 de março, em declarações à Rádio Renascença, em plena campanha para as legislativas antecipadas. Na altura, referiu que a sua decisão teve como base a “instabilidade interna prolongada” no país e a “ausência de governação estável”, apontando o dedo aos governos de curta duração.

Trajetória militar e liderança na vacinação

Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo, de 64 anos, nasceu a 21 de novembro de 1960, em Quelimane, Moçambique, tendo vivido parte da juventude no Brasil após a Revolução de Abril. Ingressou na Escola Naval em 1979 e destacou-se como oficial da esquadrilha de submarinos, onde passou 31 dias submerso e integrou, já como chefe da Marinha, a primeira missão de um submarino convencional sob o Ártico.

Em 2020, assumiu o cargo de adjunto para o planeamento e coordenação do Estado-Maior General das Forças Armadas, tendo sido escolhido no ano seguinte para liderar a ‘task force’ da vacinação contra a covid-19, papel que o projetou junto da opinião pública pela eficácia logística e comunicação clara.

Chegou a Chefe do Estado-Maior da Armada em dezembro de 2021, sendo promovido a almirante, funções que exerceu até 2024, altura em que passou à reserva.

“Movimento Gouveia e Melo Presidente” e defesa da independência

Durante meses, Gouveia e Melo manteve o “tabu” sobre uma eventual candidatura, embora em março já tivesse submetido ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial o pedido de registo da marca “Movimento Gouveia e Melo Presidente”.

Num artigo de opinião publicado no jornal Expresso, em fevereiro, com o título “Honrar a Democracia”, defendeu que o Presidente da República deve ser isento e independente de lealdades partidárias, recusando que o cargo seja um “apêndice de interesses partidários”. Afirmou posicionar-se entre o socialismo e a social-democracia, valorizando a democracia liberal como regime político e alertando que “nenhum Presidente pode ser verdadeiramente de todos se estiver claramente associado a uma fação política”.