Na obra-prima do Padre Alves Vieira, Vieira do Minho – Notícia Histórica e Descritiva (1923-1925), na celebração do 1.º centenário da sua publicação.

Um projeto CAVA, com fotografias atuais de Miguel Proença. Apoios: Instituto Português do Desporto e Juventude, O Jornal de Vieira e Rádio Alto Ave.

I Parte – Capítulo II – Vieira livre e independente.

Extrato 1 – No extrato que se segue (pp. 70-71), o Pe. Alves Vieira releva a importância das vias municipais de comunicação, anota a falta de um Museu e a escassez de obras de arte no concelho.

“O concelho é todos os dias sulcado pelos caminhões de Basto e do Gerês. Uma vez aberta a estrada para Rossas, que já vai no lugar de Santa Marta, ainda teremos razões de queixa? […]

Uma estrada que a Câmara vieirense, se quer ser benemérita, deve levar a cabo quanto antes, é a que ligará Brancelhe com Ruivães. Desde que a nossa serra ficou sujeita ao regime florestal, começou-se a abrir uma estrada para facilitar os transportes para serviço da floresta; essa estrada começou do lado de Ruivães, já alcançou o alto da serra e vem descendo na direção de Cantelães. É preciso que comece o troço de Brancelhe a Cantelães, mais preciso e urgente que o primeiro; e para isso é indispensável que a Câmara se meta resolutamente à tarefa das expropriações, que a direção dos serviços florestais fará o resto. Por que lhe esperam?

Bem sabemos que Brancelhe ainda não tem com as freguesias todas do concelho aquela comunicação íntima e completa que seria para desejar. Uma estrada que ligasse Anjos, Vilar Chão e Pinheiro com a chamada vila, seria o ideal. Outra deveria atravessar Cantelães, transpor a serra e bifurcar em Ruivães: essa já está começada. Se a iniciativa particular levasse a estrada de S. Roque a ligar com a que em Oliveira, na Póvoa de Lanhoso, construiu uma benemérita senhora, já ninguém poderia dizer que ficávamos mal servidos.

Os devotos da Senhora da Fé, e à testa deles o incansável Padre Augusto Mota, pediriam mais uma estrada que, partindo da Cruz de Real, e avançando pela Santa Ana de Loureiro, subisse à Senhora dos Remédios e rematasse no Monte de Santa Cecília. Ótimo projeto! Abençoada ideia! […]

Mas se nós não fizermos isso – que não fazemos – aí fica a ideia. Vieira tem de ser grande, mesmo muito grande; toca aos seus filhos engrandecê-la, exalçá-la às culminâncias gloriosas de onde nunca mais se desce – porque as eterniza essa grande niveladora que se chama a História!

Avante pela nossa querida terra!

Agora passemos a ver o que pode em Brancelhe apreciar um turista. Não há Museu, não há igrejas com obras de arte, não há fontanários com soberbos lavores de escultura, não há obeliscos nem pelourinhos. Dignos de visita há apenas o Hospital, benemérita criação de um modesto vieirense; a Casa da Lage com a sua capela; a Casa de Lamas; o tribunal novo”.

Extrato 2 – Neste extrato (pp. 78-79), o autor, com uma ponta da sua recorrente e fina ironia, aborda a atividade turística do concelho, dando conta da qualidade das suas ofertas e proporcionalidade dos seus recursos hoteleiros.

“O turista moderno por via de regra gosta de ver as coisas a fugir. Não se demora senão nos grandes centros, e nesses mesmos o que mais o prende, e mais pica a sua curiosidade, é o torvelinho da muita gente, é a animação das tardes e das noites, em que o jogo e por vezes a imoralidade desempenham papel de relevo. Nos pequenos centros só se demora um ou outro apaixonado da natureza, algum turista de eleição, capaz de retratar no papel ou na tela os melhores panoramas e de arrancar aos vales e às colinas todos os segredos e encantos […].

Desde já advertimos os turistas de bom gosto que desejem visitar a nossa formosa terra, que aqui não há nenhum Palace Hotel nem nenhum Hotel dos três amigos. Se Portugal tem terras grandes com péssimos Hotéis, querem ter ótimos Hotéis em terras que, por assim dizer, ainda estão na sua infância?

Infelizmente, Vieira nisso não está adiantada nem atrasada; tem o que até hoje lhe tem sido preciso para a diminuta concorrência de forasteiros; tem o que em geral há por estas cabeças de concelho da província – algumas modestíssimas Hospedarias. Não receiem, porém, os srs. turistas morrer de fome por estas alturas: comerão em Brancelhe melhor que em muitos hotéis lá da cidade, comidas sadias, bem preparadas, e por preços que desafiam toda a concorrência”.

[fotografias: Profetina Oliveira, Cantelães / Rio Ave, Rossas]