Quatro alunos do 12.º ano da Escola Secundária da Maia decidiram enfrentar um dos maiores problemas ambientais da atualidade: o plástico descartável.

Inspirados por uma aula de Química e apoiados pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), criaram a Clea, uma cápsula biodegradável e hidrossolúvel que substitui as embalagens de gel de banho.

O projeto já conquistou prémios nacionais e internacionais, incluindo o reconhecimento da National Geographic Society. Nesta entrevista, Isabel Oliveira, Nuno Aroso, Vasco Cardoso e Maria Toga contam como tudo começou, os desafios que enfrentaram e os planos para o futuro.

Isabel Oliveira: "Decidimos atuar na área dos plásticos, porque é um tema muito relevante atualmente" 

Como surgiu a ideia da Clea e o que vos motivou a trabalhar nesta solução?
Isabel Oliveira: A ideia surgiu na aula de Química, numa disciplina em que podemos desenvolver um projeto à nossa escolha. Juntámo-nos os quatro e decidimos atuar na área dos plásticos, porque é um tema muito relevante atualmente. Reparámos que no setor dos cosméticos há muito plástico e poucas alternativas sustentáveis. As únicas opções são os formatos sólidos, de que muitas pessoas não gostam. Pensámos em criar uma solução para as embalagens de gel de banho, que são muito usadas e não têm alternativas. Inspirámo-nos nas cápsulas das máquinas de lavar a louça, que têm gel no interior e um invólucro à volta. A nossa cápsula funciona de forma semelhante: tem uma parte exterior mais sólida e o interior é líquido. Dissolve-se na água e pode ser usada normalmente no banho, eliminando o plástico por completo.

Por que escolheram os produtos de higiene como foco?
Nuno Aroso: Normalmente, produtos como gel de banho, champôs e amaciadores vêm em embalagens de plástico. Queríamos encontrar uma solução que eliminasse esse plástico. As nossas cápsulas são diferentes das de lavar a louça — usamos alginato de sódio, um material natural que vem das algas marinhas e é completamente amigo do ambiente.

Clea: a cápsula biodegradável
Clea: a cápsula biodegradável

Como se usa a cápsula?
Vasco Cardoso: É muito simples. No banho, tiramos a cápsula, deixamos que a água e a fricção das mãos a dissolvam, e depois é só usar normalmente.

E como foi o processo de desenvolvimento?
Maria Toga: Desenvolvemos tudo na FEUP, graças a um protocolo com a nossa escola. Enviámos muitos e-mails e tivemos a sorte de contar com investigadoras que abraçaram o projeto. Começámos logo no início do ano letivo, fizemos muitos estudos e testes com o alginato de sódio. Íamos lá todas as sextas-feiras para trabalhar e desenvolver os protótipos.

Quais foram os maiores desafios?
Isabel Oliveira: O maior desafio foi transformar a ideia em realidade. Tivemos de experimentar várias soluções, componentes e métodos, porque não havia uma receita pré-estabelecida para isto — não existe nada igual. Sabíamos que queríamos usar alginato, mas tivemos de descobrir como.

O que significou serem distinguidos pela National Geographic Society?
Nuno Aroso: Foi muito importante. Primeiro, deu-nos motivação e reconhecimento. Percebemos que o projeto está a ir a algum lado. Além disso, dá visibilidade e credibilidade, o que é essencial para conseguirmos parcerias e levarmos o projeto mais longe.

Vasco Cardoso: "Os prémios deram-nos muita visibilidade"

E os prémios nacionais, que impacto tiveram?
Vasco Cardoso: Deram-nos muita visibilidade. Começámos a aparecer nas redes sociais e em vídeos, o que nos surpreendeu. Foi uma grande vantagem, porque ajudou a divulgar o projeto e o produto.

Em que fase está o projeto e quais são os próximos passos?
Maria Toga: O protótipo está feito. Os próximos passos são registar a marca e contactar empresas do setor dos cosméticos para colocar o produto no mercado. Depois, queremos expandir para outros produtos, como champôs e amaciadores.

Já estão em contacto com marcas?
Isabel Oliveira: Começámos agora a enviar os primeiros e-mails. Ainda não avançámos muito porque tivemos exames e muito trabalho escolar, mas estamos a investir mais nessa parte agora.

Nuno Aroso: "Procuramos marcas de gel de banho que estejam dispostas a usar um modelo de embalagem diferente"

Que tipo de apoio procuram?
Nuno Aroso: Procuramos marcas de gel de banho que estejam dispostas a usar um modelo de embalagem diferente. Nós não produzimos o gel, fazemos o encapsulamento.

Que conselho dariam a outros jovens com ideias sustentáveis?
Isabel Oliveira: Pensem de forma diferente e em alternativas. Às vezes, o que parece mais estranho pode ser o que resulta melhor. Quando dissemos à professora que queríamos fazer algo para o gel de banho, muitos duvidaram. Mas acreditámos e avançámos. A mudança começa connosco.

Maria Toga: "Somos nós que vamos mudar os problemas que vemos no mundo"

Como veem o papel da juventude na transição ecológica?
Maria Toga: Vemos como crucial. Somos nós que vamos mudar os problemas que vemos no mundo. Se cada um fizer a sua parte, conseguimos.

Vão continuar com o projeto, agora que vão para a faculdade?
Isabel Oliveira: Sim, mesmo em faculdades diferentes, queremos continuar. Já estamos a trabalhar nisso e vamos levar a Clea o mais longe possível.

A Clea é mais do que uma cápsula — é uma ideia que mostra como a juventude pode liderar a mudança. Com criatividade, persistência e espírito de equipa, estes quatro jovens estão a transformar uma preocupação ambiental numa solução concreta. E o banho, a partir de agora, pode mesmo ser mais limpo — para nós e para o planeta.

Para saber mais sobre o projeto Clea e acompanhar os próximos passos, siga-os nas redes sociais.