A Visa acaba de anunciar um pacote de soluções inovadoras a lançar em 2025, que prometem transformar o panorama mundial dos pagamentos digitais. Destaca-se o Visa Intelligent Commerce, que permite a agentes de inteligência artificial (IA) realizar compras pelo consumidor através da rede Visa. A solução deverá chegar a Portugal no final do ano. Em colaboração com tecnológicas como a IBM, Microsoft, Mistral AI, OpenAI, Perplexity, Samsung, Stripe, entre outras, a empresa tecnológica de pagamentos pretende impulsionar um comércio personalizado e seguro com IA à escala global. Mas este é apenas um dos lançamentos previstos para 2025.

As inovações surgem num contexto altamente concorrencial, em que a Europa quer criar as suas próprias soluções de pagamentos, seja com o euro digital ou com a criação de parcerias entre operadores dos diferentes países, para não depender de soluções de génese norte-americana. Um novo cenário que Rita Mendes Coelho, country manager da Visa em Portugal, não vê como ameaça, mas sim como estimulação de uma saudável concorrência.

Em entrevista ao Jornal PT50, Rita Mendes Coelho destaca ainda a integração de ‘stabelcoins’ na oferta de serviços e o papel de Portugal para estimular e gerar inovação na empresa.

A Visa acaba de lançar uma solução que permite a agentes de IA fazerem compras pelo consumidor. O que traz de inovador ao ecossistema de pagamentos?
Este ‘product drop’ que a Visa fez pressupõe uma série de produtos baseados em inteligência artificial que são bastante inovadores. Todos eles têm ‘timelines’ muito diferentes de chegada ao mercado europeu. O Visa Intelligent Commerce é a nossa nova solução de ‘Agentic AI’, que permite que o agente de inteligência artificial realize compras e pagamentos em nome do consumidor com toda a segurança, personalização e autonomia. Ou seja, imagine que está com um agente de inteligência artificial e diz ‘quero comprar um par de calças azuis’. Ao invés de estar no comerciante, a solução dá-lhe várias opções de pares de calças azuis, que previamente parametrizou. Escolhe as calças e paga através da plataforma. Esta parte do ‘Agentic AI’ vai fazer a diferença na vida do consumidor. A geração alfa, que já nasceu no meio da inteligência artificial, quer este tipo de experiência de forma muito fluida. Mas lançámos também outros produtos, como os cartões com ‘stablecoins’, em parceria com a Bridge, e expandimos um produto que já tínhamos anunciado, as Flex Credentials. Não se trata de um cartão específico, mas sim de uma credencial que vai do débito ao crédito.

Vamos lançar o Intelligent Commerce no final de 2025. Quanto às ‘stablecoins’, vamos ter mais novidades até ao final do ano e relativamente às FlexCredentials vamos dizer mais sobre esta parceria a meio do ano. E depois temos mais duas inovações, o Visa Pay e o Visa Accept. O Visa Pay vai aglomerar carteiras digitais numa mesma plataforma, para permitir o pagamento nos comerciantes. E o Visa Accept vai dar a possibilidade a que pequenos comerciantes utilizem o seu smartphone como terminais de pagamentos.

Isso é o Tap to Phone, não é?
Sim, mas aqui de uma maneira muito automatizada. Enquanto pequeno comerciante no Instagram, por exemplo, posso rapidamente, com uma API, fazer com que o meu telefone se torne num terminal de pagamento. É um passo à frente do Tap to Phone. Estas duas versões, o Visa Pay e o Visa Accept, saem em versão beta a meio de 2025.

O Tap to Phone está a crescer sobretudo entre as PME, por substituir a utilização de um POS tradicional. Tendo em conta o perfil de empresas micro e PME existente em Portugal, como está a crescer esta solução no país?
O Tap to Phone está a ter um crescimento exponencial. Em Espanha, por exemplo, está a ter 200% de crescimento ano a ano. O Tap to Phone tem vindo a fazer um caminho muito exponencial, porque faz o desbloqueio de uma oportunidade para biliões de vendedores. Ou seja, permite que o pequeno comércio se torne vendedor apenas com a tecnologia do seu telemóvel. Não é necessário ter uma infraestrutura específica para a aceitação do pagamento. Hoje em dia, com as ‘mobile wallets’, já não precisamos do cartão físico, utilizamos o nosso telemóvel, e é isso que queremos fazer com o Tap to Phone.

Isto vai tornar obsoletos os TPA?
Eu diria que não vai tornar obsoletos, porque eles são necessários em muitas ocasiões, porque há TPA que têm softwares integrados e continuam a ser muito importante no ecossistema. Vai complementar a oferta que temos atualmente.

A Visa investiu 11 mil milhões de dólares em inovação nos últimos cinco anos. Para onde foi canalizado este investimento? Para inteligência artificial?
A Visa é pioneira em inteligência artificial há mais de três décadas. A IA é um grande pilar, porque não somos, como as pessoas pensam, uma empresa de cartões de crédito, somos uma empresa tecnológica de pagamentos. Portanto, utilizamos a inteligência artificial para inúmeras coisas que muitas vezes são invisíveis para o consumidor. E isto tem tudo a ver com o investimento que temos feito. Nos últimos cinco anos, a Visa investiu 11 mil milhões de dólares em segurança, o que ajudou a prevenir 40 mil milhões de dólares em tentativas de fraude na sua rede, só em 2023. A segurança do consumidor é um dos principais pilares da Visa e atualmente é largamente reforçada através da IA.

É aqui que entra a questão da ‘tokenização’ para dar segurança aos dados?
A tokenização é uma grande parte do que temos feito. A ‘tokenização’ define-se como o processo de transformar dados muito sensíveis, como sejam as informações do nosso cartão, o número, o CVV ou a data de validade, numa sequência única, o chamado ‘token’, que fora da rede não tem qualquer valor. O que faz com que tenha elevada segurança. A ‘tokenização’ pode reduzir até cerca de 60% o número de fraude relativa ao número de cartão a circular na rede.

Falemos agora de concorrência. O ecossistema dos pagamentos está a crescer em soluções e ‘players’. Como a Visa vê a crescente presença de fintechs e big techs no setor dos pagamentos?
Quando nós falamos de Google Pay, Apple Pay, Samsung Pay ou X Pay, muitas destas transações têm por detrás uma credencial Visa ou de uma outra marca internacional. São pagamentos digitais, nos quais a rede e a experiência da Visa podem acrescentar valor significativo. Vemos estas e outras carteiras digitais como parceiros e não concorrentes.

Portanto, não sendo concorrentes, são mais um canal para expandirem a vossa base de clientes?
São parceiros. É espaço para continuarmos a potenciar pagamentos de forma fluida e segura. O importante é que o nosso consumidor tenha garantia da segurança e conveniência. Se o consumidor prefere pagar com o seu Apple Pay, então que pague com o Apple Pay e nós estaremos aqui para garantir que é uma experiência fluida.

O Banco Central Europeu quer acelerar o euro digital, em parte com o objetivo de reduzir a dependência de redes privadas de génese americana, como a Visa e a Mastercard. Como vê este movimento?
A concorrência permite-nos trazer mais inovação. O panorama dos pagamentos na Europa é altamente dinâmico e competitivo e oferece mais escolhas do que nunca a comerciantes e consumidores. Esta diversidade está a impulsionar a inovação e a moldar o futuro dos pagamentos. Competimos por cada transação e a nossa fiabilidade e resiliência têm, de forma consistente, cumprido com alguns dos mais elevados padrões de serviço de toda a indústria. Enquanto continuarmos a ter este ecossistema muito protegido e o consumidor continuar a confiar em nós, não há como não fazer um grande bem-haja à concorrência. Acho que é sempre muito bem-vinda.

Podem até trabalhar em conjunto.
Nós temos parcerias com empresas que poderiam ser nossas concorrentes naturais. O mundo dos pagamentos está em constante evolução, mas há uma coisa que é essencial: é ouvirmos o consumidor. Termos a certeza de que o consumidor tem o consentimento, a escolha e a segurança do seu lado.

Mas não é só o euro digital, entretanto, também temos o MBWay, o Bizum e o Bancomat juntos na plataforma de pagamentos EuroPA. E mais países vão juntar-se. Mais a norte, existe a Wero, que une os pagamentos instantâneos na Alemanha, França e Bélgica. Como vê a união destas plataformas de forma a reduzir presença dos players americanos no país?
A Visa acolhe positivamente a concorrência no mercado europeu e acredita que a concorrência promove a inovação e oferece mais opções de pagamento aos consumidores, comerciantes e governos. Somos uma empresa de tecnologia de pagamentos, portanto, continuamos a poder fazer parcerias com todas estas entidades e a poder fornecer tecnologia de pagamentos a todas elas. Portanto, pode ser para nós um concorrente ou pode ser um parceiro, pode ser um desafio ou pode ser uma oportunidade.

Como está a evoluir a integração de criptomoedas e ‘stablecoins’ nos vossos sistemas?
Há cerca de cinco anos, a Visa começou a colaborar com plataformas reguladas para permitir pagamentos com cartões suportados por criptoativos. Desde então, mais de 95 mil milhões de dólares em criptomoedas foram gastos com cartões Visa em mais de 200 países. A Visa está agora a expandir-se para as ‘stablecoins’. Estamos a trabalhar no novo cartão que vai permitir às fintech disponibilizar aos seus clientes este tipo de ‘currency’. São cartões que vão estar ligados à Visa e que vão estar disponíveis em vários países com uma integração única a uma API muito simples. Portanto, estamos a caminhar para termos este tipo de soluções cada vez mais integradas na nossa base de serviços.

Nos três primeiros meses do ano, a Visa superou as expectativas dos analistas e apresentou um lucro de cerca de 5 mil milhões de euros. Temem que mudanças geopolíticas e as tarifas comerciais impostas por Donald Trump tenham impacto no negócio?
A Visa está a acompanhar de perto a situação e a avaliar qualquer possível impacto que possa ter nos seus principais indicadores de negócio e resultados financeiros. E está empenhada em manter uma proximidade constante com os seus clientes, oferecendo todo o apoio necessário para enfrentar as dinâmicas do mercado.

Que peso é que Portugal tem no negócio?
Portugal no sul da Europa tem uma relevância estratégica importante, especialmente porque é um mercado bastante dinâmico, com bastantes especificidades. É um mercado muito inovador e onde a Visa se posiciona de uma maneira bastante sólida. Também temos desafios muito particulares, porque temos um mercado com uma infraestrutura muito diferente do resto dos mercados do Sul da Europa. Portanto, ganha uma importância estratégica acrescida face ao resto dos mercados.

Porque estamos habituados a ter Multibanco, por exemplo?
Porque temos um esquema local, exatamente. Temos um esquema local, um processamento local e uma infraestrutura local. O que é bom, porque gera inovação, faz-nos correr mais, ser melhores, estar mais atentos ao que podemos trazer de diferente. Portanto, é muito importante para nós trabalharmos em mercados mais complexos, onde podemos mostrar o nosso valor acrescentado aos nossos parceiros.

Por fim, hoje em dia, é impossível ficar longe das métricas de sustentabilidade. Qual o compromisso da Visa para com esta questão?
Desde 2020, a Visa passou a utilizar eletricidade 100% renovável em todos os seus escritórios e centros de dados a nível global. A Visa alcançou a neutralidade carbónica nas suas operações em 2020 e está totalmente comprometida em manter este estatuto no futuro. E assumiu o compromisso de alcançar emissões líquidas nulas até 2040, uma década antes da meta estabelecida pelo Acordo de Paris.