Nos últimos anos, a economia colaborativa deixou de ser apenas uma promessa associada à mobilidade urbana, ou ao turismo, para se afirmar como um fenómeno transversal, capaz de transformar setores com estruturas tradicionais, como é o caso da gestão de propriedades. Em mercados como o português, onde a convivência entre proprietários, inquilinos, administradores de condomínios e prestadores de serviços exige equilíbrios delicados e soluções cada vez mais ágeis, esta nova lógica de funcionamento começa a ganhar terreno e a provar o seu valor.

A ideia de partilhar recursos e conhecimentos para alcançar objetivos comuns não é nova. Contudo, quando aplicada ao contexto da manutenção e gestão imobiliária, ganha contornos particularmente relevantes. Estamos a falar de um setor onde, historicamente, a resposta a problemas se fazia de forma reativa, muitas vezes fragmentada e dependente de redes pessoais ou de processos administrativos morosos e ineficazes. A economia colaborativa surge, precisamente, para desafiar este modelo, promovendo um ecossistema onde diferentes intervenientes colaboram de forma integrada, transparente e orientada para resultados concretos.

Entre os principais benefícios da aplicação da economia colaborativa na gestão de propriedades destaco, em primeiro lugar, a otimização dos recursos. Ao promover uma lógica de partilha — seja de informação, mão de obra especializada ou ferramentas de diagnóstico — é possível reduzir custos operacionais e administrativos, acelerar processos e garantir intervenções mais precisas e eficazes. Em segundo lugar, surge a valorização do tempo: para proprietários, administradores e inquilinos, a possibilidade de resolver questões técnicas, avarias ou manutenções preventivas de forma simplificada e coordenada representa uma melhoria substancial na qualidade de vida e na eficiência do património.

Adicionalmente, não podemos ignorar o impacto ambiental positivo deste modelo. A economia colaborativa incentiva práticas de manutenção preventiva que prolongam a vida útil dos edifícios, reduzem o desperdício e diminuem a necessidade de obras de grande escala. Este compromisso com a sustentabilidade torna-se cada vez mais imprescindível, numa sociedade que exige responsabilidade ambiental em todas as suas dimensões, incluindo na forma como cuidamos dos nossos imóveis.

Contudo, como em qualquer processo de mudança, a implementação deste paradigma enfrenta desafios consideráveis. O primeiro, e talvez mais complexo, é o cultural. A gestão de propriedades em Portugal — e em muitos outros países — ainda é fortemente marcada por hábitos enraizados, baseados na confiança pessoal e na informalidade. Passar para um modelo colaborativo, digital e transparente exige uma mudança de mentalidade, tanto dos gestores, como dos prestadores de serviços e proprietários.

Outro desafio relevante reside na regulamentação. A economia colaborativa no setor imobiliário levanta questões legais e fiscais que carecem de atualização e adaptação. Desde a certificação de profissionais, até à proteção de dados e garantia de qualidade dos serviços prestados, há ainda muito caminho a percorrer para que todos os envolvidos possam operar com segurança, e confiança, dentro deste novo quadro.

Por último, importa referir a importância de assegurar a qualidade e a fiabilidade dos serviços prestados neste contexto colaborativo. Sem os mecanismos indicados para verificação, avaliação e acompanhamento, o risco de deterioração da experiência, e da confiança, entre as partes, aumenta significativamente, o que pode comprometer o sucesso do modelo a médio e longo prazo.

É, assim, fundamental que todos os agentes do setor — desde os administradores de imóveis, até aos próprios utilizadores finais — assumam um papel ativo nesta transição. Apostar na economia colaborativa, aplicada à gestão de propriedades, é apostar num futuro mais eficiente, sustentável e harmonioso para as nossas cidades e comunidades.

Ao longo da minha experiência no setor, tenho observado como pequenas mudanças no sentido da cooperação, da transparência e da digitalização podem ter impactos profundos na forma como gerimos o nosso património. Acredito que Portugal, com a sua tradição de convivência em comunidade, e com uma classe profissional cada vez mais qualificada, tem todas as condições para liderar esta transformação.


O desafio agora é coletivo: passar da teoria à prática e fazer da economia colaborativa não apenas um conceito, mas uma realidade quotidiana na gestão de propriedades em todo o país.