A aproveitar a pausa para os compromissos das seleções, o técnico Tiago Margarido concedeu uma entrevista ao podcast brasileiro The Pitch Invaders, do canal do Youtube Footure, na qual levantou o véu sobre as dificuldades sentidas por parte do Nacional em reconstruir o plantel no último mercado de transferências.

«O Nacional da Madeira é um clube que subiu à Liga este ano. É um clube que perdeu seis jogadores titulares na época passada e que não tem uma base financeira grande que permita contratar jogadores de renome. É um contexto em que eu, como treinador, tive de me adaptar. Tive de me adaptar, neste caso, àquilo que será ou que foi, nesta época, a constituição do plantel. Tivemos de fazer uma base de prospeção diferente do normal. Tivemos de ir a divisões secundárias. Fomos buscar vários jogadores ao Brasil oriundos de divisões secundárias. Tivemos de pesquisar talento sem gastar muito dinheiro. No meu contexto atual, nós tivemos de contratar 19 jogadores e tudo isto fez com que eu tivesse de adaptar a minha capacidade enquanto treinador», começou por revelar o técnico alvinegro, acrescentando que teve de existir uma simbiose entre todos os elementos da estrutura para reconstruir um plantel que o próprio diz ter sido feito do zero.

«Tivemos de deixar de lamentar o passado e começar a construir algo praticamente do zero. Juntamente com a direção definimos o perfil dos jogadores que pretendíamos e do scouting também. Tivemos de encontrar esses perfis em divisões secundárias. Foi daí que começou e felizmente conseguimos, penso que fizemos uma boa base de recrutamento, conseguimos captar muito talento, ainda em bruto, mas muito talento que tem de ser desenvolvido. Felizmente estou num clube que me permite, ou tem a felicidade de ter um presidente que olha para os assuntos com os mesmos olhos do que eu. Temos a mesma visão, quase sempre a mesma visão para os mesmos assuntos, o que facilita bastante o trabalho», acrescentou.

A realizar a segunda temporada no comando técnico do Nacional, Tiago Margarido abordou a forma como tem procurado tirar rendimento da equipa madeirense e sublinhou a importância de conhecer a realidade do clube e dos adeptos para chegar ao sucesso: «O meu estilo de jogo é sempre adaptado aos jogadores que têm pela frente. Temos de ver as características dos jogadores e vamos adaptar a nossa forma de jogo, ou eu, enquanto treinador, adapto a minha forma de jogo às características que tenho pela frente. Depois, também é importante perceber o contexto do clube, perceber se é um clube que pretende apenas resultados, se pretende valorização de ativos. Em último, é igualmente importante conhecer os adeptos. Temos de entender se a massa adepta coloca pressão na equipa, se é uma mais calma. Perceber se é uma massa adepta que nos jogos em casa se empolga com o futebol mais vertical, se é uma massa adepta que prefere um futebol mais forte. Portanto, tudo tem a ver com o contexto de clube, adeptos, estrutura e os jogadores que temos pela frente.»

Aos 35 anos, o técnico luso junta-se ao lote dos jovens técnicos que, nas últimas temporadas, têm conquistado espaço entre as principais divisões do futebol português. Sobre essa questão, Margarido relembrou os exemplos de André Villas-Boas e Rúben Amorim e destacou a qualidade da oferta formativa das faculdades que permitem que estes treinadores obtenham um sucesso precoce.

«O mercado em Portugal está a apostar cada vez mais nos jovens treinadores. Há cerca de uma década atrás havia muita cultura de o treinador ter sido o ex-jogador de futebol. Entretanto, as faculdades aqui em Portugal criaram cursos específicos para a formação de treinadores e muitos jovens sentiram-se atraídos pela profissão. Eu fui um caso desses que cheguei ali aos 25 e já tinha a minha formação feita a nível académico. Os jovens agora saem da faculdade muito bem preparados a nível técnico e foi uma questão de tempo até os clubes começarem a dar oportunidades. Agora temos vários exemplos. Temos o atual presidente do FC Porto, André Villas-Boas, que começou muito cedo a carreira como treinador. O próprio Rúben Amorim. O meu caso também, para a primeira liga são muitos os treinadores jovens. Portanto, aqui há alguns casos que têm sido de sucesso e que fazem com que os dirigentes mudem o paradigma», concluiu.

Recorde-se que o Nacional continua a preparar a deslocação do próximo dia 15 ao terreno do Estoril, em jogo a contar para 5.ª jornada da Liga.