
Quem já conversou com Yolanda Hopkins sente, mesmo se não a ouvir explicitamente dizer, que a portuguesa transpira confiança. É uma devota cega nela própria, uma guerreira aquática de crença nas suas capacidades que vai a dois Jogos Olímpicos sem jamais se ter apurado para o circuito mundial de surf, é a melhor portuguesa em ambos e lamenta que podia ter feito melhor. Yolanda é assim. E assim foi noutra viagem, esta às ondas de Ballito, na província de KwaZulu-Natal, costa este da África do Sul, para o deixar claro a quem ainda não tivesse reparado.
A nascida no Algarve e com a base em Sines apenas não superou uma surfista, Nadia Erostarbe, na segunda etapa do Challenger Series (CS), o circuito que apura sete mulheres para o mundial de surf. Na final, a portuguesa ficou a pouco menos de dois pontos de superar a adversária, que reconheceu a valia do desafio. “Tive uma luta intensa com a Yolanda, como sempre”, disse Erostarbe, a basca que manteve a linha de sucessão europeia neste arranque do CS. A portuguesa Francisca Veselko vencera a etapa inaugural, em Newcastle, na Austrália.
Chegou “o tempo das europeias, como veem”, vaticinou Nadia, radiante com a sua primeira vitória no circuito. “Estamos todas bem”, reforçou a natural de Zarautz, um dos anfiteatros de ondas mais popular do País Basco. Mas será mais correto encurtar um pouco a sua generalização - quem está para lá de bem são as portuguesas.
O segundo lugar de Yolanda Hopkins sucede ao título de Francisca Veselko na primeira prova. E em coisa de um mês Portugal juntou uma vice-campeã a uma campeã. ‘Kika’ ficou-se pelos quartos de final em Ballito e na fase anterior encalhou Teresa Bonvalot, precisamente, frente a Nadia Erostarbe. A cascalense fica no sexto lugar do ranking, atrás da liderança de Veselko e do terceiro posto de Yolanda Hopkins. No top 6 da hierarquia apenas se intromete uma não-europeia: é Sally Fitzgibbons, a veterana australiana, vice-campeã mundial por mais de uma vez.
Parece ser um facto que a fasquia das surfistas portuguesas está a insuflar. Yolanda Hopkins jamais vencera sequer um heat neste evento de Ballito, as águas sul-africanas pareciam ter um pH maldito para a algarvia, mas ela própria já o disse à Tribuna Expresso, faz dois anos, quando foi campeã europeia: “Eu funciono melhor quando o nível é mais alto, na minha cabeça - pode não ser verdade e nem toda a gente achar certo - sou a melhor do mundo. Elas podem não achar, as pessoas podem dizer que não, mas não interessa, na minha cabeça sou a melhor.”
O nível de Yolanda está a aumentar. Ela quererá mais, quer sempre mais, nem há um ano ficou a uma onda de seis pontos de se qualificar para o Championship Tour, a glória ali tão perto na praia de Saquarema, no Brasil. A surfista está com os espíritos visivelmente cá em cima. “Foi emocionante para mim, fiquei muito feliz com a minha performance, espero que tenham gostado, eu diverti-me muito”, sumariou, em Ballito, ao ser chamada ao palco para receber o troféu de vice-campeã.
Yolanda Hopkins tem 27 anos, Francisca Veselko está com 22, Teresa Bonvalot vai nos 25. Todas estão a colocar Portugal a expectar boas retribuições para as figas feitas pela explosão do surf feminino português. A próxima etapa arranca a 26 deste mês, em Huntington Beach, na Califórnia e, no final de setembro, o circuito visita a Ericeira para montar arraiais em Ribeira d’Ilhas.