Andrea Carnevale é um nome que dirá muito aos que seguem o futebol internacional desde os finais da década de 80.

O antigo avançado italiano fez parte do histórico Nápoles que, liderado por Diego Maradona, conquistou dois títulos italianos e uma Taça UEFA.

Carnevale chegou também a internacional italiano, tendo somado 10 internacionalizações e apontado dois golos.

Tudo isto, depois de ter vivido um verdadeiro drama quando era criança, que agora decidiu partilhar na sua biografia, «Il destino di un bomber», Destino de um bombista, em tradução livre.

Carnevale relata ter crescido num clima de terro em casa, fruto da violência imposta pelo pai, e várias vezes denunciada e desvalorizada pela polícia, que um dia terminou em tragédia.

«Na manhã do dia 25 de setembro de 1975, ele acordou, agarrou no machado e foi ter com a minha mãe, que estava a lavar roupa no rio, e matou-a com o machado. Eu fui a correr para lá, fiquei cheio do sangue da minha mãe e depois fui à polícia e perguntei: ‘agora já veem o sangue’?», relata, em entrevista ao Corriere della Sera.

Andrea Carnevale tinha 14 anos quando viveu o episódio impossível de esquecer e do qual tentou refugiar-se no futebol.

É também com o pai que o antigo jogador tem mais dois episódios que não esquece. O primeiro, quando o visitou na prisão, aos 16 anos.

«Tive de o visitar na prisão porque queria olhá-lo nos olhos. Ele tinha-me tirado tudo na vida. E quando o vi, dei-lhe um abraço. Forte. De alguma forma, perdoei-o, apesar da certeza de ter diante de mim um homem muito doente», conta, revelando que o pai foi diagnosticado com esquizofrenia.

Andrea cresceu depois com um medo incontrolável. «Durante muitos anos, vivi em dor profunda e receio de me tornar como ele. Mas percebi que não sou ele e isso foi o primeiro passo para a libertação».

A história do pai terminou anos mais tarde, de forma trágica, deixando nova recordação dolorosa no filho: «Um dia, atirou-se de uma janela e suicidou-se à minha frente».

Aos 64 anos, Andrea Carnevale continua ligado ao futebol, agora como coordenador de scouting da Udinese.